Esta data no Evangelho (12 de junho)

Francisco Muniz -



Aberta a Bíblia de Jerusalém neste dia 12 de junho, coube-nos visualizar o versículo 36 do sexto capítulo do Evangelho de Lucas, cujo teor deveremos comentar de acordo com o aprendizado da Doutrina Espírita. O texto lido, sob a epígrafe “Misericórdia e gratuidade”, é este:

“Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso.”

É um convite, um apelo, uma ordem do Cristo que devemos cumprir disciplinarmente, como um soldado cumpre as determinações de seu comandante. Essas palavras de Jesus integram uma sequência de pregações às quais o evangelista Lucas procurou dar uma certa linearidade, juntando também aí o famoso Sermão da Montanha e as maldições: entre os versículos 24 e 26, Lucas relaciona quatro “maldições” de Jesus: “Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação! Ai de vós, que agora estais saciados, porque tereis fome! Ai de vós, que agora rides, porque conhecereis o luto e as lágrimas! Ai de vós, quando todos vos bendisserem, pois do mesmo modo seus pais tratavam os falsos profetas”.

Essas maldições são, conforme nos parece, a razão do apelo do Cristo no sentido de exercitarmos a misericórdia para com nossos irmãos de caminhada, especialmente junto àqueles que nos põem à prova. São eles instrumentos da justiça divina em nosso favor, ainda que nos tragam dissabores, incômodos e perturbação, unicamente para aprendermos as lições de humildade, tolerância e paciência, e mesmo a resignação, a fim de assim domarmos o orgulho, esse monstro cruel que nós próprios criamos e alimentamos, e nos afasta das alegrias espirituais. Desse modo, como na bem-aventurança anotada por Mateus (Lucas não a relaciona senão separadamente), no capítulo 5 de seu Evangelho, “são (e serão) bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” da parte do Altíssimo.

Ora, agir misericordiosamente para com alguém é perdoá-lo por cada ofensa que nos dirija, é manifestar indulgência ante seus defeitos, é ter compaixão de seus infortúnios e fazer tudo ao nosso alcance para minorar suas dores, seus dramas e tormentos, do mesmíssimo modo como Deus age para com cada um de seus filhos, mesmo os mais rebeldes. E tais manifestações correspondem ao amor incondicional ao próximo ou aos inimigos que porventura cruzem nosso caminho, não importando que sejam, ou estejam, encarnados ou desencarnados. E tudo isso porque, por conta de nosso passado criminoso – o fato de esquecermos o que fomos e fizemos em vidas pregressas não é justificativa para recusarmos o dever – nós necessitamos dessa misericórdia, que Deus não regateia jamais.

Conforme o Espírito Dimas Luiz Zornetta, “Deus não se empobrece de compaixão”, porquanto “quanto mais infeliz está o homem, mais ampla se faz a bondade do Pai Celestial”, disse ele em mensagem transmitida à mediunidade psicográfica de Francisco Cândido Xavier (*). Em O Livro dos Espíritos (**) Allan Kardec elenca os principais atributos da Divindade, afirmando que Deus é, além de eterno, imutável, imaterial, único e onipotente, também soberanamente justo e bom. E é por essa soberana bondade que o Pai que Jesus nos apresentou manifesta sua infinita misericórdia, ou compaixão, para conosco, perdoando nossas faltas, nossas infrações à sua Lei, dando-nos a oportunidade e os recursos necessários à reparação desses delitos.

Notas

(*) Depoimento de um suicida em carta mediúnica de esperança para a mãe e a família, citado na Agenda Chico Xavier de 2014 (ed. EME), a partir do original constante do livro Assuntos da vida e da morte, ed. GEEM. 

(**) Questões 10 a 13 (primeira parte).


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