Francisco Muniz -
Os “Complementos” com os quais o apóstolo João finaliza sua
Primeira Epístola podem ser considerados como o sexto capítulo dessa Carta e é
dela que retiramos o assunto de nossos comentários neste dia 11 de junho, data
de nascimento de meu neto Ulisses, que hoje completa seu sétimo aniversário. A
ele, portanto, dedico estes escritos. O texto que nos propomos comentar,
segundo o aprendizado da Doutrina Espírita, vem sob a epígrafe “Resumo da
epístola” e corresponde ao versículo 21, que encerra o documento joanino:
“Filhinhos, guardai-vos dos ídolos...”
Os Espíritos Superiores informaram a Allan Kardec (*) que o
progresso moral é bem mais lento que o intelectual, e este se expressa muito
mais pelas conquistas materiais e tecnológicas que promovem conforto ao corpo
físico e proporcionam certas facilidades que mais distraem do que nos levam a
reflexionar acerca das questões transcendentais, por exemplo. O resultado é que
nos vemos ainda muito ignorantes acerca do que somos, de onde viemos, para onde
vamos e o que de fato estamos fazendo aqui. E foi para abrir nossos olhos,
ampliando nossa consciência pelo esclarecimento da Verdade, que o Espiritismo
foi revelado à Humanidade, a fim de que, pelo próprio esforço, saibamos nos
libertar das trevas que nos paralisam a marcha ascensional.
Assim atrasados, seguimos vagarosamente, conduzidos pelo
orgulho e pelo egoísmo que nos caracterizam, daí manifestarmos, ocasional ou
frequentemente, atitudes contrárias ao bom senso, na forma de preconceito,
intolerância, idolatria e iconoclastia, prejudicando a nós mesmos e aos outros.
Há cerca de dois anos, em razão de um grupo fundamentalista ter promovido um
ataque a uma estátua representativa de Jesus, num templo religioso de uma
cidade brasileira, o que provocou um grande rebuliço na imprensa, escrevemos o
texto abaixo:
Toda essa celeuma em torno da depreciação da “imagem” de
Jesus se deve a um equívoco biblicamente explicável. No livro que judeus e
cristãos dividem – a Bíblia –, encontram-se, no Velho Testamento, os dez
mandamentos da lei de Deus recebidos por Moisés. O primeiro desses mandamentos
prega que não se deve fazer nem adorar imagens de nada que esteja no céu nem
que esteja na Terra.
O Cristo, em vários momentos de sua pregação, deixou claro
que veio confirmar a lei e não destruí-la. E mais: ele ensinou que só se deve
adorar a Deus. Como filho de Deus, jamais pediu exclusividade ou participação
nos atos de adoração. No máximo, limitou-se a dizer que nosso amor por ele deve
ser manifestado pelas atitudes de caridade e compaixão pelo próximo. Dito
assim, conclui-se que nossa repulsa à iconoclastia (**) dos outros só ofende a
nossa equivocada idolatria (***).
Quando amadurecermos um pouco mais nosso senso de
compreensão das coisas sagradas, perceberemos que toda adoração é um ato íntimo
e individual no sentido de aprimorar nossa condição espiritual no caminho da evolução.
É para isso que o evangelista nos conclama em sua Carta – e, para tenhamos
sucesso nesse esforço, o Espiritismo vem em nosso socorro.
Notas
(*) Ver, na terceira parte de O Livro dos Espíritos,
dedicada às Leis Morais, as questões 779 e seguintes, referentes à marcha do
progresso.
(**) A iconoclastia configura a rejeição ao uso de imagens
religiosas, tendo sido também um movimento político-religioso contrário à
veneração de ícones e imagens religiosas no Império Bizantino, entre os séculos
VIII e IX.
(***) Idolatria é o ato de se
colocar qualquer objeto, coisa (os astros, por exemplo) ou pessoa no lugar de
Deus, a quem devemos adorar “em espírito e verdade”, segundo Jesus.
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