Esta data no Evangelho (10 de junho)

Francisco Muniz -



“O verdadeiro tesouro” é a epígrafe do versículo 19 do sexto capítulo do Evangelho de Mateus, cujo teor nos propomos comentar neste dia 10 de junho, prosseguindo nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento sob a luz diáfana da Doutrina Espírita. O texto, copiado da Bíblia de Jerusalém, é este, no qual Jesus nos dá um valiosíssimo conselho:

“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e onde os ladrões arrombam e roubam (...)”

Como é praxe, primeiro deciframos o mistério contido das reticências entre parênteses, para compreendermos o sentido completo do texto, e depois cumprimos a tarefa precípua de comentar as palavras de nosso Mestre e Senhor. Vejamos, portanto, o que dizem os dois últimos versículos relativos ao assunto: “(...) mas ajuntai para vós tesouros nos céus, onde nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam; pois onde está o teu tesouro aí estará também teu coração”. Como se vê, o verdadeiro tesouro nada tem de material e nada há, na Terra inteira, que se compare a ele, porquanto se constitui dos valores imperecíveis que somente os céus, isto é, as instâncias mais elevadas de nossa essência espiritual, eminentemente divina, podem comportar.

Jesus fala isso em razão de nossa ambição proporcionada pela ilusão que criamos sobre os elementos da vida material, que nada mais são do que recursos que a Providência divina nos empresta para a realização das tarefas que nos trouxeram ao mundo. De acordo com o que os Espíritos Superiores informaram a Allan Kardec (*), “o homem não possui de seu senão o que pode levar deste mundo. O que encontra ao chegar e o que deixa ao partir, goza durante a sua permanência na Terra; mas, uma vez que é forçado a abandoná-lo, dele não tem senão o gozo e não a posse real”. Desse modo, querer para si, egoisticamente, os bens da Terra é agir contrariamente aos dispositivos da lei divina, que em tudo e dá a última palavra. Por isso é que num de seus livros o filósofo Huberto Roden diz que “não se pode gozar o mundo de Deus sem o Deus do mundo”.

Trata-se, em verdade, de mais uma lição do Cristo acerca do desprendimento, do apego com que nos aferramos às expressões materiais da vida como se ela fossem tudo quanto importa para nossa felicidade, o que só atesta nossa ignorância de nós mesmos e do quanto estamos distantes do despertamento para a Realidade do Espírito imortal. Enquanto isso não acontece, ficamos perdidos de nós mesmos, amando coisas que não fazem parte de nosso ser espiritual, candidatando-nos, então, a tormentos e decepções, às surpresas desagradáveis que podemos encontrar no inevitável retorno ao mundo da verdade. Evitável, contudo, é essa situação tormentosa, bastando que nos esforcemos para vencer a ignorância que nos caracteriza, superando o orgulho e o egoísmo, que são como vendas que limitam ou simplesmente impedem nossa visão espiritual.

E foi para que nos curemos de nossa miopia espiritual que a Doutrina Espírita foi revelada aos homens, conforme lemos no Prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “(...) São chegados os tempos em que todas as coisas devem ser restabelecidas em seu sentido verdadeiro para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos”. Assim é que, voltando ao nosso assunto, “os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa à sua vontade, e o homem deles não é senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente. Eles são tampouco a propriedade individual do homem, porque Deus, frequentemente, frustra todas as previsões, e a fortuna escapa daquele que crê possuí-la pelos melhores títulos”.

(*) Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI (“Não se pode servir a Deus e a Mamon”), itens 9 e 10 das Instruções dos Espíritos (“A verdadeira propriedade”). 

Comentários

  1. Bom dia Chico
    Realmente é necessario que sempre estejamos consciente dessa realidade, diante da nossa impernanencia na Terra.
    para que pratiquemos cada vez mais o desapegar das coisas terrestres e nos apropriamos da riqueza das virtudes que alimentam e fortalecem nosso Espírito.
    Gratidão

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    1. Sim, esse é o grande desafio a que nos propomos. Que possamos sair daqui bem sucedidos!

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