Francisco Muniz -
Sob a epígrafe “Aos fiéis”, nosso estudo de algumas
passagens do Novo Testamento nos leva à apreciação do versículo 5 do quinto capítulo
da Primeira Epístola de Pedro, que comentaremos hoje, dia 9 de maio, segundo a
luz meridiana da Doutrina Espírita. O texto, recolhido da Bíblia de
Jerusalém, como de hábito, traz a seguinte redação:
“Do mesmo modo, vós, jovens, sujeitai-vos aos anciãos.
Revesti-vos todos de humildade em vossas relações mútuas, porque Deus
resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.”
A expressão adverbial “do
mesmo modo” usada pelo apóstolo no início desse versículo indica que Pedro já
havia aconselhado alguém antes, no caso, os anciãos, que ele denominou “presbíteros”
(*), reconhecendo-se um deles. Em nota de rodapé, os organizadores da Bíblia de
Jerusalém sugerem que a admoestação do Pescador parece observar que os jovens,
em contraposição aos adultos, “são “muitas vezes turbulentos, sobretudo quando
reunidos em grupos”; mas pode ter sido dirigida “também aos neófitos”, ou ainda
“a todos os fiéis que não são presbíteros”. De qualquer forma, nota-se um
conflito no seio da igreja motivado pelas diferenças próprias das gerações, as
mais novas questionando as ideias estabelecidas, por não as compreenderem ou
por quererem estabelecer as suas.
Tal fato nos
leva a recordar o capítulo do livro Boa Nova (**), no qual o autor
espiritual observa as relações entre os integrantes do Colégio Apostolar de
Jesus, formados por homens maduros, a exemplo de Pedro, André e Bartolomeu (também
conhecido como Natanael) e jovens como os irmãos “Boanerges” (***) – Tiago e
João. A partir dos esclarecimentos do Mestre, esses “velhos e moços” (assim se
intitula o capítulo) puderam se entender e colaborar melhor na tarefa comum,
reconhecendo que o Espírito não tem idade, porquanto esta só influencia o corpo
material. Se, como ponderou o Cristo junto a Simão Pedro, no diálogo referido
nesse livro, fôssemos computar o tempo “na ampulheta das inquietações humanas”,
envolvendo as múltiplas reencarnações, quem seria o mais velho dentre nós?
É dever dos
Espíritos, portanto, manterem-se em clima de estreita cooperação em benefício
do progresso geral, o que só se evidencia pelo respeito que deve viger entre
todos os membros da sociedade, assim como aos regulamentos que a regem.
Um conto do
zen-budismo narra que dois monges, um mestre e seu discípulo, saíram um dia em peregrinação
e nessa caminhada passaram por uma aldeia e logo na entrada foram solicitados
por um jovem que lhes perguntara como alcançar a felicidade na vida. O mestre
lhe disse: “Divirta-se menos!” O jovem agradeceu e todos seguiram seus
caminhos. Antes que deixassem a aldeia, foram interrompidos por um homem idoso
que lhes fez a mesmíssima pergunta, recebendo mestre esta resposta: “Divirta-se
mais!” E, mais uma vez, todos seguiram adiante.
Algum tempo
depois de andarem em completo silêncio, o discípulo perguntou ao monge mais
velho: “Mestre, por que você deu respostas diferentes a perguntas iguais?” O
monge então explicou que sua tarefa era a de um condutor numa ponte pênsil sobre
o abismo, fazendo com que os passantes não fossem tanto à esquerda nem tanto à direita,
mantendo-se o quanto possível no centro, para não se arriscarem na queda. E
disse mais: que o jovem que os havia interrogado primeiro estava no vigor de
suas forças físicas e tinha muito ainda a fazer em prol da comunidade, ao passo
que o idoso já havia contribuído bastante ao longo da vida e tinha o direito de
divertir-se em pouco mais!
Humildemente,
ouçamos os mais velhos e tentemos aprender com eles.
Notas
(*) Na Bíblia, presbítero
significa uma pessoa mais madura, que cuida da igreja. Os presbíteros eram
líderes na igreja, ensinando e mantendo tudo em ordem.
(**) Ditado
pelo Espírito Humberto de Campos ao médium Francisco Cândido Xavier; ed. FEB,
Rio de Janeiro, 1941.
(***) Conforme
Marcos 3:17, Jesus apelidou assim aos dois filhos do pescador Zebedeu.
Bom dia Chico
ResponderExcluirSempre é gratificante, os ensinamentos elucidativos que vc comenta no Evangelho.
Agradecida
Eu é que agradeço sua participação nesse estudo. Deus nos abençoe.
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