Francisco Muniz -
O capítulo 19 do Evangelho de Lucas conta o célebre encontro
de Jesus com o cobrador de impostos Zaqueu, cujo nome é tomado como epígrafe
para o versículo 5, que comentaremos nesta data, dia 8 de maio, no
prosseguimento de nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento. Assim,
vamos à Bíblia de Jerusalém buscar o texto correspondente, que abordaremos
de acordo com o aprendizado da Doutrina Espírita:
“Quando Jesus chegou ao lugar, levantou os olhos e
disse-lhe: ‘Zaqueu desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa’.”
Para o comentário relativo a esse versículo, preciso, antes,
contar uma historinha própria do zen-budismo que li certa vez: um homem decidiu
alcançar a iluminação; deixou a casa onde vivia com sua velha mãe e partiu para
onde sabia encontrar um velho asceta que o ensinaria; gastou vários dias de
caminhada e por fim chegou diante do guru, expondo-lhe sua questão; o homem
santo, porém, disse-lhe que não podia ajudá-lo, que outra pessoa estava
destinada a ensiná-lo a atingir a iluminação. “Como reconhecerei tal pessoa?”,
perguntou o moço, que ouviu do outro a recomendação de retornar sobre os próprios passos porque um dia ele encontraria uma mulher com os cabelos desgrenhados
e usando um simples avental – seria ela sua instrutora.
O jovem agradeceu e retomou a caminhada de volta, chegando à
cidade onde morava tarde da noite. Sua mãe dormia quando ouviu batidas na
porta, despertando assustada; bem depressa, ela apanhou o primeiro pedaço de
pano que encontrou e com ele cobriu-se, indo abrir a porta; nesse momento,
vendo sua mãe naquele estado, com os cabelos assanhados e usando apenas um velho
avental, o homem compreendeu. Pois é. Uma frase atribuída à Madre Tereza de
Calcutá diz assim: se você quer a paz no mundo, vá para casa e ame sua família.
Tal nos parece o sentido do texto de Lucas, no qual o Cristo ensina nada valer
a contemplação dos elevados panoramas espirituais se nos descuidamos dos
deveres mais imediatos concernentes às várias atribuições que nos trouxeram à
realidade material.
É preciso descer depressa do patamar do encantamento, a fim
de que o Cristo, a quem buscamos com intensidade, possa permanecer em nossa
casa. Convém reparar que o Mestre, conhecedor das necessidades de nossa alma,
sempre sabe onde nos encontrar; seu olhar compassivo sempre se dirigirá para
nós, para todo aquele que o busque com a sinceridade possível, a fim de asserenar
nosso ânimo, sofrear nosso ímpeto, aliviar nossas angústias e solucionar nossas
dúvidas. Como Zaqueu, também nós temos necessidade de que o Cristo visite nossa
casa e permaneça conosco por longo tempo – e isto foi o que ele prometeu no
passado, tendo cumprido sua promessa na Terceira Revelação de Deus aos homens,
enviando-nos o Consolador que ficará conosco até o fim dos tempos (*).
Mas não se trata de dar atenção unicamente à família
consanguínea, mas também à grande família universal, igualmente necessitada de
nossos préstimos, o que aprenderemos a fazer através das extenuantes quão
gratificantes experiências domésticas. Fazendo a parte que nos cabe junto aos
mais próximos, logo nos capacitaremos para sermos conduzidos aos infortunados
ocultos ao nosso olhar, pelo acréscimo de misericórdia com que a Bondade Divina
nos cumulará. Porque àquele se se desincumbe satisfatoriamente de suas tarefas
ordinárias o Pai de amor, bondade e justiça oferece novos e maiores encargos,
confiando na boa administração de seus filhos – e nisso Zaqueu, que teve sua
última encarnação no Brasil, como o médico Adolfo Bezerra de Menezes, tornou-se
um grande exemplo (**).
Notas
(*) Ver, a esse respeito, o Cap. VI de O Evangelho
Segundo o Espiritismo, intitulado “O Cristo consolador”.
(**) O livro de Jorge Damas Martins O 13º Apóstolo,
ed. Lachâtre, narra com detalhes essa história.
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