Francisco Muniz -
Em sua Segunda Epístola aos Coríntios, Paulo de Tarso nos
dá, no quinto versículo do capítulo 2, o tema para uma profunda reflexão, a
partir dos comentários que nos propomos fazer neste dia 5 de maio, em prosseguimento
do estudo de algumas passagens do Novo Testamento. O texto que abordaremos, sob
a luminosidade incomparável da Doutrina dos Espíritos, é retirado, mais uma
vez, da Bíblia de Jerusalém, onde é colocado, na primeira parte (“Os incidentes
passados”), sob a epígrafe “Por que Paulo modificou os planos de viagem”:
“Se alguém causou tristeza, não foi a mim, mas em certa
medida (não exageremos) a todos vós.”
Ainda que o Apóstolo dos Gentios seja prudente em não
generalizar sua muito sensata observação, utilizando a expressão “não
exageremos”, ele está certo em afirmar que toda ação negativa, passível de
causar tristeza, atinge a coletividade – toda a Humanidade – e não àquele a
quem a ofensa foi dirigida. Desse modo, um homem que se comporte
desastradamente compromete toda a sociedade, sem atingir o objeto de sua
intempestividade. Por extensão, os emissários do Cristo, assim como Paulo, não
devem nem precisam ficar incomodados com as agressões que lhes queiram
endereçar, porquanto o próprio Jesus não se sentiu atingido pelos apupos da
multidão que se comprazia de seu sacrifício na cruz. O Messias de há muito já
havia vencido as angústias do personalismo, que é que faz com que nos sintamos
ofendíveis, e pediu ao Pai celestial que nos perdoasse naquele momento, porque
não sabíamos o que fazíamos.
Se é assim com os encarnados, de igual modo devemos nos
comportar em relação aos desencarnados que em sua ignorância declaram guerra ao
Bem, ao Cristo e a seus prepostos. Ora, o Mal não consegue atingir o Bem, as
trevas não podem ofuscar a luz e, não podendo atacar diretamente o Filho de
Deus, seus inimigos batalham contra as fraquezas dos homens, a bem dizer,
aqueles que se alistaram nas hostes do Cordeiro. Por tal razão o Mestre vem, há
mais de dois mil anos, nos exortando quanto à necessidade de nos resguardarmos
na oração e na vigilância, além de cumprirmos as disciplinas imprescindíveis ao
crescimento espiritual. Esse apelo é hoje reforçado pelo Espiritismo, esclarecendo-nos
quanto aos perigos do personalismo, principalmente na dimensão do exercício
mediúnico, que exige o máximo possível de abnegação e altruísmo.
Uma vez encarnados num mundo de provas e expiação qual a Terra,
estamos todos sujeitos a quedas, porquanto ainda nos classificamos como
Espíritos inferiores, integrando as classes iniciais e intermediárias da escala
elaborada por Allan Kardec, por orientação dos Luminares do Espaço (*). Segundo
o Codificador, a Humanidade terrena abrange tanto os homens – Espíritos encarnados
– quanto os desencarnados, que ocupam todo o espaço ao redor de nós e, por assim
dizer, acotovelam-se conosco, influenciando-nos o tempo todo – e nós a eles!
Com tal esclarecimento, os Amigos espirituais nos pedem cada vez mais ações
conscientes no bem, a fim de não experimentarmos tantas derrotas morais como no
passado. Assim é que, quando um homem sai vitorioso de suas provas mais duras,
ele se torna um valoroso exemplo para todos, ainda que sua vitória se passe em “segredo”,
no anonimato.
Essas tristezas de que fala Paulo são os escândalos que
Jesus censurou, mesmo afirmando que eles são necessários (**), justamente pela
condição espiritual inferior dos homens: “Ai do mundo por causa dos escândalos;
porque é necessário que venham escândalos; mas ai do homem por quem o escândalo
venha”. E disse mais: “Se alguém escandalizar um desses pequeninos que creem em
mim, seria melhor para ele que se lhe pendurasse ao pescoço uma dessas mós, que
um asno gira, e que o lançassem no fundo do mar” (Mateus 18: 6-11).
Notas
(*) Ver as questões 96 e seguintes de O Livro dos
Espíritos.
(**) Ver o Cap. VIII, itens 11 a 17 de O Evangelho
Segundo o Espiritismo (“Escândalos. Se vossa mão é um motivo de escândalo,
cortai-a”).
Gratidão!!!Exercício muito difícil!
ResponderExcluirAssim como os acontecimentos são lições para nosso aprendizado, devemos encarar tudo como desafios que podemos vencer, já que nos são colocados em meio a nossas provas. Muita paz, Jô.
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