Francisco Muniz -
“A redenção realizada por Cristo e não pelos anjos” é a
epígrafe que encabeça o versículo 5 do segundo capítulo da Epístola de Paulo
aos Hebreus, cujo teor comentaremos neste dia 30 de maio, prosseguindo nosso estudo
de algumas passagens do Novo Testamento. Como se sabe, nossos comentários têm
base no aprendizado da Doutrina Espírita e o texto, retirado da Bíblia de Jerusalém,
é este:
“Não foi a anjos que ele sujeitou o mundo futuro, de que
estamos falando.”
Essas palavras de Paulo de Tarso, cognominado o Apóstolo dos
Gentios, remontam a vários ensinamentos e promessas do Cristo quando encarnado
entre nós, há mais de dois mil e vinte anos. Por exemplo, o Mestre afirmou que
iria nos preparar um lugar e voltaria para nos resgatar, assim como disse
também que não ficaríamos órfãos, pois ele pediria ao Pai e o Pai nos enviaria
um outro consolador que ficará conosco para sempre. São palavras do capítulo 14
do Evangelho de João, indicando a posição do mundo e da Humanidade no futuro.
Sendo a Humanidade constituída pelos homens, Espíritos ainda na inferioridade
necessitados de muito e constantemente nos esforçarmos para melhorar, o mundo do
futuro, que construímos a cada vez que reencarnamos, não é mesmo para os anjos,
como afirma Paulo.
De acordo com alguns pensadores espíritas, um dia – daqui a
alguns milênios – chegaremos à condição dos anjos, chamada de angelitude; para
tanto, precisamos nos humanizar, através dos exercícios disciplinadores que desenvolverão
nossas virtudes. Isso significa que já temos um pé na humanidade, nossa
presente fase evolutiva, mas o outro ainda se encontra na animalidade, de modo
que os instintos primitivos ainda vibram em nós, condicionando nosso
comportamento marcado pelas más tendências que precisamos domar. Segundo o Espírito
Lázaro (*), “no seu início, o homem não tem senão instintos; mais avançado e corrompido,
só tem sensações, mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o ponto delicado
do sentimento é o amor (...)”
Somos nós, portanto, que, dando atenção às lições e
recomendações do Cristo, assimilando-as e vivenciando-as o mais integralmente
possível, preparamos o mundo que queremos habitar, primeiramente dentro de nós
mesmos, através da purificação dos sentimentos, para depois concretizá-lo externamente.
Como é fácil perceber, em vista dos acontecimentos atuais no âmbito do planeta
e da Humanidade, estamos, presentemente, nos despedindo da conceituação antiga
do mundo e transitando para uma nova concepção que atenda às condições dos
Espíritos evolvidos que em futuro muito breve deverão habitar a Terra. Estamos,
por assim dizer, em pleno trabalho de parto e, como se sabe, não há parto sem
dor, de modo que os tormentos experimentados atualmente se justificam, afinal,
toda ocorrência tem uma causa e uma finalidade (**).
Concluindo, precisamos, para consolidar nosso atual processo
evolutivo, colocar os dois pés na humanidade, o que nos dará condição,
posteriormente, de já colocar um deles no patamar da angelitude, manifestando
as boas qualidades e tornando-nos mais maleáveis à ação benfazeja do Cristo e
de seus Emissários. Ao mesmo tempo, estaremos atuando com muito mais
responsabilidade no cuidado das coisas celestiais, assumindo cada vez maiores
encargos e crescendo significativamente na direção de Deus, que é o que
realmente nos interessa fazer.
Notas
(*) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XI, item
8 das Instruções dos Espíritos (“A lei de amor”).
(**) Ver, a respeito, o que diz o Espírito Manuel Philomeno
de Miranda nos livros Transição Planetária, Amanhecer de Uma Nova Era
e No Rumo do Mundo de Regeneração – todos pela psicografia do médium
Divaldo Franco.
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