Esta data no Evangelho (3 de maio)

Francisco Muniz - 



Hoje, dia 3 de maio, a Bíblia de Jerusalém foi aberta no capítulo 28 de Atos dos Apóstolos, onde o evangelista Lucas relata uma cena de uma das viagens do apóstolo Paulo de Tarso, registrada sob a epígrafe “Permanência em Malta”. No versículo 5 desse capítulo está o assunto que comentaremos nesta data, no prosseguimento de nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento sob a inspiração da Doutrina Espírita. Eis o texto:

“Ele, porém, sacudindo o animal ao fogo, não sofreu mal algum.”

Malta é a ilha na costa italiana onde o navio em que Paulo viajava naufragara; os nativos acolheram sobreviventes ao redor de uma fogueira para a qual o Apóstolo dos Gentios havia apanhado alguns gravetos. Supersticiosos, os ilhéus repararam que dos gravetos que Paulo jogara ao fogo saltara uma serpente que, fugindo ao calor, enroscara-se em seu braço – e pensaram, assim exclamando: “Certamente esse homem é um assassino; pois acaba de escapar ao mar, mas a vingança divina não quer que ele viva” (Atos 28:4). O texto de Lucas fala de uma víbora, significando tratar-se de uma cobra venenosa que poderia ter levado algum perigo ao ilustre filho de Tarso que, contudo, como é relatado, não sofrera mal algum.

Esse episódio relembra o exemplo do profeta Daniel, que fora atirado ao covil dos leões por ordem do rei Dario apenas por estar orando ao Deus de Israel (*), recordando também o texto do Salmo 91:7 (**), tudo isso atestando a proteção divina sobre os filhos bem-amados. Não se pense, porém, que os filhos rebeldes não tenham tal proteção – o caso de Caim é exemplar nesse sentido –, mas seu orgulho e prepotência são sempre punidos. Aqueles que se colocam favoravelmente ao cumprimento das tarefas que lhes cabem na disseminação da verdade, que é a própria vontade de Deus, receberão sempre o beneplácito do Alto, na forma da assistência espiritual. Por essa razão é que Jesus orientou seus discípulos a não temerem os lobos nem suas armadilhas (Mateus 10:16).

No caso de Paulo, nota-se que seu instinto de sobrevivência falou mais alto, posto que muito naturalmente ele sacudiu o braço ao perceber a cobra, em vez de manter a serenidade observada, por exemplo, em Francisco de Assis e, anteriormente, no apóstolo João, o evangelista – sendo ambos a mesma entidade espiritual (***). Os dois falavam com os animais: enquanto João discursava para as aves e os peixes, em seu exílio na ilha grega de Patmos, Francisco, tempos depois, segundo registros históricos, era respeitado por lobos e serpentes em terras italianas, disso resultando contos muito significativos que a literatura sacra tornou famosos.

De acordo com o que os Espíritos Superiores disseram a Allan Kardec, para nos instruir, o instinto é a inteligência do corpo (ver as questões 73 e seguintes de O Livro dos Espíritos) e responde pelos atos em que a razão não toma parte. Desse modo, ele pode ser tanto bom, causando benefícios para a própria criatura como para os semelhantes, quanto mau, provocando muitos malefícios, a exemplo da belicosidade que acomete o ser humano em razão de sua inferioridade moral.  

Notas

(*) "Daniel na cova dos leões" é o sexto capítulo do Livro de Daniel, no Antigo Testamento. Narra a trama causada por oficiais do Império Aquemênida, no reinado de Dario, o Medo, que por um decreto real impedia a adoração a qualquer Deus, somente ao rei.

(**) “Mil cairão ao teu lado, e dez mil, à tua direita, mas tu não serás atingido. Ainda que mil pessoas sejam mortas ao teu lado, e dez mil ao teu redor, tu não sofrerás nada. Ainda que caiam mil ao teu lado e dez mil à tua direita; tu não serás atingido.

(***) Ver o livro Francisco de Assis, do Espírito Miramez, psicografia do médium mineiro João Nunes Maia; ed. Fonte Viva, Belo Horizonte.


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