Esta data no Evangelho (28 de maio)

Francisco Muniz - 



Hoje, dia 28 de maio, quem comparece ao nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento é o evangelista João, que na sexta parte de seu livro trata do “Fim do ministério público e preliminares da última Páscoa”. O versículo 5 do capítulo 12, sob a epígrafe “A unção de Betânia”, é que nos apresenta o tema de nossos comentários, o que faremos sob a inspiração do Espiritismo. O texto, copiado da Bíblia de Jerusalém, é o seguinte:

“Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários para dá-los aos pobres?”

Em nota de rodapé, a Bíblia de Jerusalém informa que denário, moeda de prata romana, correspondia ao salário de um dia normal de trabalho de um operário (*) e a quota que cada judeu devia pagar ao imperador (**) como imposto instituído. Assim, calculamos que Judas, o autor da frase anotada por João e dirigida ao Cristo, a qual passamos a comentar, avaliava o perfume utilizado por Maria de Betânia na unção dos cabelos e pés do Messias em aproximadamente um ano de trabalho. Era um perfume muito valioso, portanto, cuja venda reverteria em recursos para auxiliar a muitos pobres, segundo a pretensão do apóstolo. Mas será que a prática da caridade exige o envolvimento de muito dinheiro?

Como em toda parte onde o homem está presente, o meio espírita também tem seu folclore e um dos fatos nele expostos fala da ingenuidade de certas pessoas ao argumentarem que, se tivessem muito dinheiro, ajudariam muito ao Centro que frequentam, quando bastava que pagassem a mensalidade de sócio em dia. Tais pessoas sonham em enriquecer para assim se darem ao exercício da caridade e até rezam para ganhar na loteria, anelando àquele objetivo. Conta-se, como anedota nas palestras, de alguém que implorara tanto a Deus a boa sorte na loteria que em certa noite um Espírito lhe aparecera em sonho e perguntou: “Você quer mesmo ganhar na loteria?” O sonhador respondeu que sim e o Emissário divino lhe solicitou: “Então, pelo menos, jogue!”

Como se percebe, a caridade fazemos primeiramente a nós mesmos, esclarecendo-nos quanto à verdade; aos outros, nós a praticamos com os recursos que temos à disposição e estes nem sempre são materiais; ou, se são materiais, nem sempre se trata de dinheiro. Em verdade, a verdadeira caridade é o sentimento que imprimimos ao gesto de doação aos necessitados, não é a doação em si mesma, de modo que ela só é bem praticada quando a alma está ajustada aos princípios da humildade e do desprendimento. Comentando acerca do “Maior mandamento” (***), Allan Kardec pondera que o único caminho da salvação espiritual são a caridade e a humildade, ao passo que a trilha da perdição está no cultivo do egoísmo e do orgulho.

Diz mais o Codificador afirmando que “este princípio [a salvação pela caridade] está formulado em termos precisos nestas palavras: “Amareis a Deus de toda a vossa alma e ao vosso próximo como a vós mesmos: toda a lei e os profetas estão contidos nesses dois mandamentos”. Kardec se refere, é claro, às recomendações do Cristo, que resumiu em apenas dois os dez mandamentos recebidos por Moisés. E prossegue: “E para que não haja mais equívoco sobre a interpretação do amor de Deus e do próximo, ajunta: ‘E eis o segundo mandamento, que é semelhante ao primeiro’; quer dizer, não se pode verdadeiramente amar a Deus sem amar ao próximo, nem amar ao próximo sem amar a Deus; portanto, tudo que se faz contra o próximo se faz contra Deus. Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se encontram resumidos nesta máxima: Fora da caridade não há salvação” (***).

Notas

(*) e (**) Conforme registrado em Mateus 20:2-13 e 22:19, tanto quanto em Marcos 12:15 e Lucas 20:24.

(***) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV (“Fora da caridade não há salvação”), item 4.


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