Francisco Muniz -
Vem do capítulo 19 do Evangelho de Mateus o tema de nossos
comentários deste dia 27 de maio, quando abordaremos o teor do versículo 5
desse livro, sob a inspiração da Doutrina Espírita. O texto, retirado da Bíblia
de Jerusalém, está colocado sob a epígrafe “Perguntas sobre o divórcio” e
integra a parte narrativa do sexto volume dos relatos de Marcos, intitulado “O
advento próximo do Reino dos Céus”. Ei-lo:
“(...) e que disse: ‘Por isso o homem deixará pai e mãe e
se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne’?”
A fim de que compreendamos as palavras do Messias exaradas
pelo evangelista, precisamos, primeiramente, decifrar o que se encontra nas
reticências entre parênteses, indo ao(s) versículo(s) anterior(es). Marcos
conta que Jesus, tendo deixado a Galileia, o “jardim fechado” de sua segurança,
foi para a Judeia, seguido por uma multidão que recebeu cura para seus males. É
então que alguns fariseus se aproximaram e “querendo pô-lo à prova”,
perguntaram se era “lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo que
seja”. O Mestre responde perguntando: “Não lestes que desde o princípio o
Criador os fez homem e mulher? (...) E assim o homem deixará pai e mãe para uma
formar, junto com sua mulher, uma família, de modo que essa união de propósitos
representa “uma só carne”, isto é, a concretização de um compromisso
previamente assumido.
Entenda-se que deixar pai e mãe não significa abandoná-los, nem
aos outros integrantes da família nuclear anterior, porquanto ali foram
formados e, talvez, apertados os laços de afeto que preponderam (ou devem
preponderar) nos relacionamentos desse nível. Significa apenas que se deixou a
companhia dos genitores, uma vez que o homem, Espírito encarnado, precisa dar
cumprimento às tarefas que o trouxeram ao mundo, pela reencarnação, e tais
tarefas muitas vezes incluem a necessidade de formar uma família através da
qual mais Espíritos virão à Terra, em atendimento à Lei de Reprodução, que no
Velho Testamento é expressa na frase “crescei e multiplicai-vos” (Gênesis
1:28 e também 9:7).
O sentido do texto destacado, contudo, ressalta a
responsabilidade do casal que se uniu para a realização de uma tarefa comum,
representando, pois, o caráter indissolúvel do casamento sob a perspectiva da
união espiritual, de modo que Jesus afirmará depois aos fariseus: “O que Deus
uniu o homem não separe”. No que tange a essa indissolubilidade, Allan Kardec
comenta, capítulo mais curto de O Evangelho Segundo o Espiritismo (o 22º,
intitulado “Não separeis o que Deus juntou”), que “não há de imutável senão o
que vem de Deus; tudo o que é obra dos homens está sujeito a mudanças”. O
Codificador trata, portanto, das uniões formadas livremente, sob o império do sentimento
de amor, e daquelas que podemos classificar como fortuitas, nas quais se leva
em conta somente o interesse material.
Por isso é que a lei civil, meramente humana e mutável
segundo a época e o país, é chamada para regular os casamentos em sua expressão
momentânea. “Mas na união dos sexos”, diz Kardec, “ao lado da lei divina
material [porque natural], comum a todos os seres vivos, há uma outra lei
divina, imutável, como todas as leis de Deus, exclusivamente moral e que é a lei
de amor. Deus quis que os seres estivessem unidos, não somente pelos laços da
carne, mas pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se
transportasse para seus filhos, e que eles fossem dois, em lugar de um, a
amá-los, a cuidá-los e fazê-los progredir”. Assim, “quando Jesus disse: “Vós
não separareis o que Deus uniu”, isso se deve entender da união segundo a lei imutável
de Deus, e não segundo a lei variável dos homens” (*).
(*) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXII, item 3.
Glória a Vós Senhor
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