Esta data no Evangelho (25 de maio)

Francisco Muniz -



“Hipocrisia e vaidade dos escribas e dos fariseus” é a epígrafe sob a qual está o versículo 5 do capítulo 23 do Evangelho de Mateus, cujo teor devemos comentar hoje, dia 25 de maio, sob a luz da Doutrina Espírita, dando prosseguimento ao estudo de temas do Novo Testamento. Eis, portanto, o texto, copiado da Bíblia de Jerusalém:

“Praticam todas as suas ações com o fim de serem vistos pelos homens. Com efeito, usam largos filactérios (*) e longas franjas.”

Lembram-se de que Jesus recomendou deixássemos brilhar nossa luz diante dos homens para que vissem nossas boas obras? (Mateus 5:16) Pois ele não se referia aos escribas e aos fariseus, reconhecidamente distanciados da humildade e essência da caridade ensinadas e exemplificadas pelo Messias. Ao contrário, a atitude deles consisti na exibição de seus atos aparentes, como se dissessem: “Vejam como sou bom”; “Admirem minhas belas vestes”; ou, como vemos e lemos hoje em dia: “Quando Deus quer é assim”; tais atitudes por vezes se manifestam em adesivos colocados em belos automóveis com a seguinte inscrição: “Propriedade de Jesus”.

Sim, os escribas e fariseus (**), isto é, a atitude marcada pela vaidade e pela hipocrisia, filhas espúrias do orgulho, continuam presentes entre nós, mais de dois mil anos depois, porque o personalismo ainda sobrepuja nossa essência espiritual. O personalismo outra coisa não é senão o resultado do império do ego sobre as manifestações da alma, sufocando as necessidades do Espírito imortal. É ele que, no campo da liderança religiosa, por exemplo, escamoteia as relações com a Divindade acreditando-se detentor de poderes especiais ou de privilégios superiores aos daqueles que conduzem – muitas vezes, para o abismo. Agindo assim, em tudo se assemelham aos “vendilhões do templo” combatidos pelo Cristo, pois também comercializam as coisas celestiais – a fé.

A esse respeito, podemos recordar o momento em que o Mestre, junto a seus discípulos, observava um fariseu e um publicano (cobrador de impostos, figura execrável na Palestina de então) orando no Templo de Salomão, em Jerusalém. Enquanto o primeiro se dirigia a Deus olhando para o alto, julgando-se merecedor de toda glória, o outro, ajoelhado e olhando para o chão, confessava seus pretensos erros e humildemente rogava o perdão do Senhor. Essa diferença de comportamento na oração levou o Nazareno a dizer que o Todo-Poderoso ouve e atende muito mais os pedidos de um coração banhado pelo orvalho da humildade do que as múltiplas palavras pronunciadas dos lábios para fora, produzidas unicamente pelo intelecto.

Por isso Jesus pediu-nos nos resguardássemos do “fermento dos fariseus”, ou seja, da postura enganosa, porquanto não ficamos muito tempo na Terra, encarnados, e ao voltarmos para nosso mundo de origem, o plano espiritual, veremos a nós mesmos e uns aos outros tal como somos e nesse momento poderemos ficar muito envergonhados pelo que fizemos ou deixamos de fazer. De acordo com Allan Kardec, o sucesso de nossa passagem pelo chão do planeta consiste em não perdermos de vista a vida futura. Considerando assim, haveremos de admitir que nossa tarefa no planeta corresponde à troca das vestes impuras do personalismo pelo traje translúcido do aperfeiçoamento espiritual, a fim de participarmos do banquete de núpcias sem a possibilidade de daí sermos expulsos.

Notas

(*) Em nota de rodapé, a Bíblia de Jerusalém informa se tratar de “pequenos estojos que encerravam frases importantes da Lei e que os judeus traziam presos no braço ou na testa, procurando cumprir materialmente o prescrito” nos livros Êxodo e Deuteronômio (Velho Testamento). As franjas, por sua vez, eram as borlas presas às extremidades do manto.

(**) Escribas eram, ao tempo de Jesus, “os doutores que ensinavam a lei de Moisés e a interpretavam ao povo; faziam causa comum com os Fariseus, dos quais partilhavam os princípios e a antipatia contra os invasores; por isso Jesus os confunda na mesma reprovação”. (Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo – Notícias históricas.)


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