Esta data no Evangelho (23 de maio)

Francisco Muniz -



Em prosseguindo nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento, hoje, dia 23 de maio, vamos comentar o texto do versículo 5 do capítulo 13 da Carta de Paulo aos Hebreus, que é colocado sob a epígrafe “Últimas recomendações”. Esse capítulo, que lemos na Bíblia de Jerusalém, inicia o Apêndice que finaliza essa Epístola paulina e traz o seguinte teor:

“Que o amor ao dinheiro não inspire a vossa conduta. Contentai-vos com o que tendes, porque ele próprio disse: ‘Eu nunca te deixarei, jamais te abandonarei’.”

“O que mais o admira na Humanidade?” – fizeram esta pergunta certa vez ao Dalai Lama, líder espiritual do Tibete exilado (*) na Índia. Em resposta, ele fez uma declaração que se tornou proverbial: admira-o o fato de os homens gastarem a saúde para obter dinheiro e, depois, gastarem esse mesmo dinheiro par recuperar a saúde. Ou seja, é uma atitude insensata e contra semelhante pensamento é que o Apóstolo dos Gentios nos faz sua recomendação, pedindo-nos cuidado ao lidar com os valores materiais simbolizados pelo dinheiro. Paulo repete, afinal, a observação judiciosa do Cristo, para quem devemos amealhar os tesouros do Céu, os quais o ladrão não rouba, a traça não rói e a ferrugem não consome (Mateus 6:19-20), porquanto são os bens imperecíveis da alma – as virtudes.

É preciso, portanto, contentarmo-nos com o que temos, isto é, com o que já conquistamos e seja o suficiente para possibilitar nossa sobrevivência – e a de nossos familiares –, a fim de demorarmos o máximo possível no planeta, realizando as provas que aumentarão nossos méritos espirituais. O homem, contudo, é, sabidamente, um eterno insatisfeito e quer sempre mais. De acordo com a milenar sabedoria oriental, se a pessoa é pobre, ela almeja a riqueza; se é rica, anseia pelo sucesso; tendo sucesso, ambiciona a fama... No entanto é preciso cada um identificar e manter o foco de sua trajetória no rumo do crescimento espiritual, vertical, compreendendo que o progresso não se dá unicamente no sentido horizontal de nossas ocupações mundanas. Para isso é que se torna indispensável a educação moral que os pais devem proporcionar a seus filhos.

Ontem (22 de maio), véspera do Fórum Econômico Mundial, que reúne as sete principais potências econômicas do planeta, a TV divulgou o mais recente relatório da Oxfam (**) mostrando como bilionários lucraram durante a pandemia às custas de milhões: “Os 2.668 bilionários do mundo hoje – 573 a mais que em 2020 — têm uma fortuna que chega a US$ 12,7 trilhões, um aumento de US$ 3,78 trilhões em relação a março de 2020.” Segundo esse relatório, “o mundo poderá ter um milhão de pessoas empurradas para a pobreza extrema a cada 33 horas em 2022, quase a mesma velocidade do surgimento de novos bilionários durante a pandemia (um a cada 30 horas)”. Como se percebe, quem mais tem, mais quer, não importa como.

Em Lucas 12:13-21, o Cristo, em razão da ambição humana pelos bens materiais, tece importantes considerações sobre nosso despropositado amor pelo ouro, que é apenas um meio e não uma finalidade em relação à felicidade que queremos conquistar: “Precavei-vos cuidadosamente de qualquer cupidez, pois, mesmo na abundância, a vida do homem não é assegurada por seus bens”. Porque, como bem pondera Huberto Rohden, não se trata apenas de possuir riquezas, mas de não se deixar possuir por elas – e facilmente os Espíritos invigilantes tombam nessa armadilha...   

Notas

(*) O atual Dalai Lama nasceu em 1935 e recebeu em 1989 o Prêmio Nobel da paz, em reconhecimento à sua campanha pacifista. Exilou-se na Índia em 1959, após o fracasso das negociações com a China, que invadira o Tibete em 1950, ocupando aquele país até a atualidade.

(**) A Oxfam é uma organização internacional criada para denunciar as desigualdades sociais e lutar por mais justiça. Ver histórico em oxfam.org.br  


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