Francisco Muniz -
Voltamos, mais uma vez, ao Evangelho de João, onde, no versículo
5 do capítulo 14, a Bíblia de Jerusalém nos oferece o tema dos comentários
que deveremos fazer hoje, dia 21 de maio, no âmbito de nosso estudo de algumas
passagens do Novo Testamento. Como já informado antes, esses comentários são
feitos com base no aprendizado da Doutrina Espírita. Eis, então, o texto que
pretendemos examinar:
“Tomé lhe diz: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como
podemos conhecer o caminho?”
O apóstolo Tomé, aquele que equivocadamente é considerado um
incrédulo, aquele que só acreditou porque viu, é, ao contrário, reverenciado
por certos intérpretes do Evangelho, por verem nele o espírito de um verdadeiro
homem de Ciência, que não aceita nada sem exame. Tomé era questionador e essa
sua característica o aproxima bastante da postura dos aprendizes do
Espiritismo, porquanto Allan Kardec, ao preconizar a necessidade de
desenvolvermos a fé raciocinada, pede-nos que investiguemos as causas e
finalidades dos fenômenos espirituais, humanos e sociais antes de emitirmos
qualquer parecer.
É que tudo tem um porquê e um para que, de modo que nada
acontece por acaso. Ademais, a busca pelo conhecimento da verdade é condição “sine
qua non” para sermos um bom servidor do Cristo, especialmente na condição de
espíritas, e nesse aspecto temos muito a aprender com Tomé.
Tomando como ponto de partida a constatação de que nada
sabemos e estamos na Terra não apenas para “viver”, mas para aprendermos a
viver, torna-se imprescindível reconhecer nossa ignorância e nos sujeitarmos às
lições que a Vida tem a nos oferecer. Reconhecemos, assim, que toda e qualquer
ocorrência, nefasta ou prazerosa, traz em si mesma um vasto material de
aprendizagem que não devemos desprezar. E o aprendizado começa pelo
questionamento, motivado pela curiosidade ou pela angústia provocada pela dificuldade
de se encontrarem as respostas mais adequadas ao entendimento de certos
fenômenos.
Tomé duvidou, questionou o próprio Mestre, mostrando que
tudo é passível de pesquisa, que nada se deve aceitar sem uma análise prévia e
sua atitude sempre foi muito bem recebida pelo Cristo, ainda que o Rabi
parecesse admoestá-lo algumas vezes, como quando o apóstolo quis tocar nas
chagar do Ressuscitado, para ter certeza de que era mesmo Jesus se ali se
apresentava, de que se tratava de um fenômeno, uma aparição real.
Para termos uma pálida noção da dedicação “científica” desse
apóstolo, no livro O Evangelho Gnóstico de Tomé (*) há uma passagem na
qual Jesus faz uma pergunta ao grupo dos Doze e Tomé é o único a oferecer uma
resposta satisfatória. O Mestre, então, o chama à parte para ensinar-lhe algo
mais sobre os “mistérios” da Realidade do Espírito imortal, coisas relativas ao
Reino dos Céus. Quando Tomé retorna para junto de seus companheiros, estes lhe
perguntam o que Jesus lhe dissera: “Se eu contar o que ele me disse” –
respondeu Tomé – “vocês tomarão pedras para atirar em mim e essas pedras se
transformarão em fogo que queimará vocês”.
A exemplo do que fez a Tomé, o Cristo, agora na roupagem do
Espírito de Verdade, solicita-nos igual esforço, ao dar-nos – a nós, espíritas –
os dois mandamentos registrados em O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Espíritas!
amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo.” Assim somos
conduzidos ao estudo, reconhecendo que entre a Terra e o Céu há muito a ser pesquisado, muito mais do que sonha nossa vã filosofia, conforme constatou um dia, inspiradamente, o dramaturgo inglês William Shakespeare.
(*) Obra organizada e comentada por Hermínio Miranda e publicada pela Editora Lachâtre.
Nunca tinha visto Tomé por esse ângulo. Perfeita reflexão em torno da fe5 raciocinada. Gratidão!
ResponderExcluirComo se vê, Jo, nosso aprendizado é mesmo infinito! Deus conosco, Jesus sempre, graças a Deus.
ResponderExcluir