Francisco Muniz -
Hoje, dia 20 de maio, abrimos a Bíblia de Jerusalém
no capítulo 20 de Atos dos Apóstolos, onde o versículo 5 vem garantir o assunto
de nossos comentários, prosseguindo o estudo de algumas passagens do Novo
Testamento de acordo com o aprendizado da Doutrina Espírita. Eis o texto,
colocado sob a epígrafe “Paulo deixa Éfeso”:
“Estes seguiram à frente, e nos aguardaram em Trôade.”
Quando minha filha mais velha engravidou pela primeira vez,
todos na família esperávamos uma menininha, pois todos os sinais indicavam que
seria assim: sonhávamos com uma menina, amigos médiuns “viam” uma menina entre
nós... até que a ultrassonografia revelasse um menininho. E veio Pedro, que no
berço ainda apontava para o alto, vendo alguma coisa nas paredes do quarto, atiçando
nossa curiosidade. Não demorou muito e chegou Laura – e Pedro parou de esticar
seu dedinho para o teto.
Conto essa história familiar para explicar que, conforme a
História registra, a Humanidade necessita de desbravadores, de pioneiros,
daqueles que tomam a iniciativa de abrir caminho para o progresso, facilitando
o trabalho de quem vem na retaguarda. É o que mostra o autor de Atos dos Apóstolos,
o médico Lucas, narrando as peripécias de Paulo de Tarso, o Apóstolo dos
Gentios, nesse verso que ora analisamos. Afinal, como saber para onde seguir
sem que o caminho seja descortinado?
Então, muito facilmente recordamos do diálogo que o cronista
espiritual Humberto de Campos registra em seu livro Boa Nova (*), entre
os jovens Jesus e João, seu primo, quando traçavam as diretrizes do trabalho de
ambos no futuro, para anunciar o Reino de Deus à Humanidade sofrida: João partiria
primeiro, para preparar as veredas por onde o Messias trilharia, da humilde
Nazaré para o coração dos homens de boa vontade.
Também é muito fácil constatar que alguém – pelo menos duas
pessoas – se adiantou na reencarnação para nos receber na Terra: nossos pais. O
mesmo se observa na via inversa, quando alguém parte em demanda do mundo
espiritual e lá aguarda quem aqui ainda está se preparando para a grande
viagem. Jesus é quem nos ensina assim ao esclarecer seus discípulos quanto à
necessidade de sua precoce partida, após três anos de serviço missionário: “A
vós convém que eu vá.” (João 16:7)
Esse aviso do Mestre mereceu do Espírito Emmanuel uma bela
ponderação exarada no livro Pão Nosso (**): “Ninguém sabia amar tanto quanto Ele;
contudo, era o primeiro a reconhecer a conveniência da partida, em favor dos
companheiros”. Por conta disso, o mentor de Chico Xavier pergunta: “Que teria
acontecido se Jesus teimasse em permanecer?” – salientando que “provavelmente,
as multidões terrestres teriam acentuado as tendências egoísticas,
consolidando-as”.
“O Mestre precisava ausentar-se para que o esforço de cada
um se fizesse visível no Plano Divino da obra mundial. De outro modo seria
perpetuar a indolência de uns e o egoísmo de outros”, constata Emmanuel. Para
ele, “repete-se, sob diferentes aspectos, diariamente, a grande hora da família
evangélica em nossos agrupamentos afins”, uma vez que, para a conveniência do
bem comum, e ante a luz que o Cristo fez acender em nós, muitas vezes surgirá a
viuvez, a orfandade, o sofrimento da distância, a perplexidade e a dor.
Ou seja: muito fizeram antes de nós e partiram. Agora é
nossa vez de cooperar mais decisivamente seguindo as trilhas abertas pelo esforço
dos vanguardistas, a exemplo de Moisés e do próprio Jesus. “Foi Moisés quem
abriu o caminho; Jesus continuou a obra, e o Espiritismo a arrematará”, como
bem diz “Um Espírito Israelita” em mensagem (***) aproveitada por Allan Kardec
em O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Notas
(*) Psicografia do médium Francisco (Chico) Cândido Xavier;
ed. FEB, Rio de Janeiro, 1941.
(**) Obra igualmente psicografada por Chico Xavier e
publicada pela FEB na Coleção Fonte Viva; Rio de Janeiro, 1950.
(***) Cap. I (“Eu não vim destruir a lei”), item 9 das Instruções dos Espíritos (“A era nova”).
Comentários
Postar um comentário
Abra sua alma!