Esta data no Evangelho (19 de maio)

Francisco Muniz - 



Nesta data de 19 de maio nosso estudo de temas do Novo Testamento sob a inspiração da Doutrina dos Espíritos nos leva ao versículo 5 do capítulo 9 do Evangelho de Marcos, que versa sobre “A transfiguração”. É mais uma oportunidade para nos estendermos um pouco mais sobre a dicotomia luz e trevas. Eis o texto, copiado da Bíblia de Jerusalém, que passamos a comentar:

“Então Pedro, tomando a palavra, diz a Jesus: ‘Rabi, é bom estarmos aqui. Façamos, pois, três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias’.”

O apóstolo Pedro sempre foi apontado como exemplo de homem, rude, turrão, impetuoso, por causa de seu comportamento muitas vezes irrefletido. Claro, não era ele um homem mau, era somente, como o Espírito Humberto de Campos repara em seu livro Boa Nova (*), um “homem fraco”, como fracos no querer e no fazer, no tocante à autotransformação, todos os homens, de acordo com a ponderação do Cristo na crônica desse mesmo Humberto de que falamos.

E dizemos tudo isso para informar que, nesse versículo de Marcos, Pedro manifesta uma preocupação um tanto quanto absurda, motivada tão somente pelo imediatismo da realidade material, embora reconheça ser bom estar ali, naquele momento, apreciando um espetáculo de rara beleza próprio do panorama eminentemente espiritual, afinal, testemunhar uma reunião de entidades espirituais de tão elevada hierarquia não é para toda hora nem para qualquer um!

Assim, não faz sentido que o Pescador quisesse, com a simplicidade que lhe era característica, construir “tendas”, ou seja, habitações para Jesus, Moisés e Elias, a não ser que tomemos sua atitude como manifestação do materialismo que ainda nos caracteriza ao qual o Espiritismo veio dar combate. Mas o evangelista Marcos diz, no versículo seguinte, que o apóstolo “não sabia o que dizer”, porque tanto Pedro quanto João e Tiago “estavam atemorizados”. Em seu relato Mateus também registra esse temor, mas todo esse significativo episódio é ignorado no Evangelho de João, uma das três testemunhas oculares do fato.

João é apontado como o mais místico dos evangelistas e por essa razão creio que ele nos faria entender que as “tendas” de que os Espíritos se serviriam somos nós mesmos, no que se refere aos fenômenos mediúnicos, quando, na condição de médiuns, intérpretes de seu pensamento, permitimos que eles se utilizem de nossas faculdades para se comunicarem. E isto recordando Allan Kardec, que nos esclarece sobre a mediunidade radicar no organismo físico (**).

Por esse ponto de vista, compreendemos que as “tendas” que Pedro queria fazer já estavam prontas e as três testemunhas puderam testificar, com o próprio exemplo de dedicação ao Cristo e à Obra divina, o que, naquele momento, se exigia deles. Pois o evangelista afirma que uma nuvem os encobriu com sua sombra e da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado; ouvi-o”. Também nós, novos tabernáculos (“tendas”) vivos do Senhor, devemos, por nossa vez, ouvir a Jesus, esforçando-nos para compreender e cumprir suas doces determinações...

Notas  

(*) Psicografia de Francisco Cândido Xavier; ed. FEB, Rio de Janeiro, 1941.

(**) Ver O Livro dos Espíritos, questão 367 e seguintes, e também O Livro dos Médiuns.


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