Esta data no Evangelho (10 de maio)

Francisco Muniz -



Hoje, dia 10 de maio, a Bíblia de Jerusalém apresenta o versículo 5 do segundo capítulo do Evangelho de Lucas para nossos comentários no âmbito do estudo de temas do Novo Testamento, o que fazemos de acordo com nosso aprendizado da Doutrina Espírita. O texto, colocado sob a epígrafe “Nascimento de Jesus e visita dos pastores”, é concernente ao(s) episódio(s) anterior(es) ao nascimento de Jesus, que o médico Lucas, amigo de Paulo de Tarso, o Apóstolo dos Gentios, narrou assim:

“(...) para se inscrever com Maria, sua mulher, que estava grávida.”

Diferentemente de Mateus, Lucas é bastante sucinto na descrição dos fatos relativos à vida do Cristo, demonstrando aquela objetividade que todo repórter deve imprimir em seus textos, embora haja uma razão para essa diferença. É que Lucas era grego e só se interessou em pesquisar tais acontecimentos pela influência de Paulo, ao passo que Mateus, um judeu tradicionalista, mesclou seus relatos com informes das Escrituras, vinculando a vida e missão de Jesus às antigas profecias acerca do advento do Messias. Por isso é que não se observam em Lucas as referências à fuga para o Egito e ao infanticídio perpetrado pelo rei Herodes, o Grande, por exemplo.

Antes de continuarmos nossa digressão, vejamos o que revelam as reticências no início do versículo ora abordado: Lucas informa que “naqueles dias, apareceu um edito de César Augusto (*), ordenando o recenseamento de todo o mundo habitado. Esse recenseamento foi o primeiro enquanto Quirino (**) era governador da Síria. E todos iam se alistar, cada um na própria cidade. Também José subiu (***) da cidade de Nazaré, na Galileia, para a Judeia, na cidade de Davi, chamada Belém, por ser da casa e da família de Davi (...)”

Para compor seu evangelho, Lucas recorreu a fontes o quanto possível fidedignas, como a própria Maria, mãe de Jesus, que certamente devia se lembrar muito bem daqueles momentos, embora passados mais de 40 anos, aproximadamente. O versículo que nos ocupa, portanto, fala-nos de um fato histórico, o recenseamento dos habitantes das várias províncias submetidas pelo Império Romano, que constituíam, junto com Roma, “todo o mundo conhecido”.

O edito de César impunha que os cidadãos cumprissem o recenseamento na própria localidade onde cada um nasceu. Desse modo, José, por ser descendente da casa do rei Davi (ver, no Evangelho de Mateus, a genealogia de Jesus), teve de se deslocar a Belém, cidade localizada na Judeia, âmbito do reino de Israel, cuja capital era Jerusalém. Responsavelmente, porque orientado pelo Anjo Gabriel, José levou Maria consigo. Percebe-se que somente os homens eram obrigados a cumprir o edito; as mulheres não eram consideradas cidadãs, por terem um “status” abaixo mesmo do dos animais, sendo então simples coisas de propriedade dos homens.

Jesus é que modificaria essa situação, exaltando a condição feminina, o que o Espiritismo enfatiza na atualidade (desde o século XIX), ao esclarecer o papel importantíssimo da mulher como cocriadora da obra divina, sendo um instrumento imprescindível para a reencarnação dos Espíritos. José, portanto, deve ser tomado como exemplo de comportamento masculino, no respeito à mulher, e de humildade e resignação no que toca à assistência espiritual.

Notas

(*) Título do imperador Otávio, sobrinho de Júlio César e fundador do Império Romano, governando de 27 a.C até sua morte, 14 d.C.

(**) Públio Sulpício Quirino serviu como governador da Síria com autoridade nominal sobre a Judeia até 12 d.C., quando retornou a Roma, por ser um aliado próximo do imperador Tibério. Nove anos depois ele faleceu e recebeu um funeral de estado. (Wikipedia)

(**) Embora a Galileia ficasse ao Norte da Palestina, a Judeia, onde se localiza Jerusalém, compreendia a região mais elevada do país, ao Sul, daí usar-se o verbo subir.


Comentários

  1. Achei interessante. Existe a dúvida sobre a data do nascimento de Jesus . Muitas fontes e muitas informações

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    1. Sim, há muitas incógnitas sobre vários pontos, mas o que realmente importa são as lições morais que o Mestre nos legou, conforme Kardec observa na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Grande abraço.

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