Francisco Muniz -
“Que significa “subiu”, senão que ele também desceu às
profundezas da terra?”
Essas palavras são do versículo 9 do quarto capítulo da Epístola
de Paulo aos Efésios, cujo enunciado tentaremos comentar, neste dia 9 de abril,
à luz do aprendizado da Doutrina Espírita, dando prosseguimento ao nosso estudo
de algumas passagens do Novo Testamento. Tirado da Bíblia de Jerusalém,
o versículo em tela é colocado sob a epígrafe “Apelo à unidade”.
Pelo teor das cartas de Paulo de Tarso às Igrejas da
Antiguidade nós concluímos que ele foi um grande intérprete das lições de
Jesus, após a leitura longamente meditada dos textos de Mateus, além de, para
isso, estar constantemente inspirado pelos Amigos espirituais, emissários do
Cristo na colaboração para o sucesso do Apóstolo dos Gentios. Ele percebeu,
principalmente, que a vinda de Jesus a este plano físico correspondeu à última
etapa de iniciação com vistas à conquista do grau de sumo sacerdote da Ordem de
Melquisedeque (*). A essa iniciação todos nós, os discípulos do Cristo, estamos
submetidos, para o que nos unimos ao Amigo Divino e, sabendo cumprir suas doces
recomendações disciplinares, no tempo propício alcançaremos o objetivo a que
nos destinamos.
Assim compreendendo, intuímos o sentido das palavras
destacadas no texto em exame, especialmente se recordarmos a mensagem embutida
na letra da canção Conceição, imortalizada pelo cantor brasileiro Cauby
Peixoto. Ali se diz que alguém que vivia no morro (lugar alto), no intuito de
buscar algum sucesso teve que descer para a cidade lá embaixo. Ora, a cidade é
puro bulício, a agitação própria das massas que não sabem para onde vão nem
como devem ir, indo então como querem, como sabem, como podem – e esses quereres,
saberes e poderes são, muitas vezes, distanciados do que é conveniente às
necessidades das almas sequiosas de bem-estar íntimo. Assim, pois, ao
desencarnarem, assim como se deu com a tal “Conceição”, se subiram, ninguém
sabe, ninguém viu (a não ser quem esteja do outro lado da cortina...).
O Cristo, de fato, tendo vindo do Alto e sendo, efetivamente,
um Ser de elevada estirpe espiritual, soube descer às profundezas – não da terra,
a não ser que tomemos essa palavra como analogia à condição inferior das almas
aqui estacionadas temporariamente – para, no caso, fazer o resgate de Judas,
que precipitou-se ao inferno consciencial após ter cometido o autocídio
provocado pelo remorso. Também é nossa a necessidade de subir, tendo por nossa
vez descido ao vale de infortúnios que é um mundo marcado pela inferioridade
moral, qual a Terra, onde campeiam o vício, a violência e o crime - o mal, enfim. E “subir”
significa crescermos para e com o Cristo, adotando suas lições no processo de
transformação íntima a que somos chamados há não sei quanto tempo.
Só assim, subindo, elevando-nos acima de nós mesmos, é que
teremos condições de perscrutar as profundezas de nossas almas para então
fazermos o trabalho de assepsia, retirando as teias de aranha de nossa casa
mental, polindo e despertando os valores adormecidos e retirando todo o lixo
depositado debaixo do tapete, para sua devida reciclagem. É um trabalho a que
não podemos mais nos furtar, porquanto “são chegados os tempos em que todas as
coisas devem ser restabelecidas em seu sentido verdadeiro para dissipar as
trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos” (**). E essa
glorificação vem ao nos adequarmos aos princípios da Lei Divina, como bem
informa Carlos Torres Pastorino (***). Assim nos justificamos.
Notas
(*) Ver, a respeito, a Epístola aos Hebreus.
(**) Alusão ao Prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
(***) Autor de Sabedoria do Evangelho (ed. Sabedoria;
Rio de Janeiro : 1967).
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