Esta data no Evangelho (8 de abril)

Francisco Muniz - 



Voltamos hoje, dia 8 de abril, ao Evangelho de Mateus para comentar o teor do versículo 8 do quarto capítulo, em continuidade de nosso estudo de temas do Novo Testamento. O texto, que declinamos logo abaixo, uma vez copiado da Bíblia de Jerusalém, vem sob a epígrafe “Tentação no deserto”, assunto sobre o qual é sempre pertinente discorrermos:

“Tornou o diabo a levá-lo, agora para um monte muito alto. E mostrou-lhe todos os reinos do mundo com o seu esplendor (...)”

Como já explicado anteriormente neste estudo, Jesus, Espírito puro sob cujo poder estão os destinos da Humanidade na Terra, planeta que ele governa tendo recebido do Criador essa atribuição, não precisava, absolutamente, passar pela experiência da tentação, de modo que esse episódio é mesmo uma lição para nós outros, seus irmãos menores necessitados desses ensinos libertadores. Assim, ganharemos muito se nos transportarmos, o quanto possível, para a dimensão do Cristo, desde agora, imaginando sentir a força desse nosso irmão mais velho, o primogênito de Deus em relação a cada um de nós, para sabermos como agir frente às situações em que a vida terrena nos coloca, no contato permanente (até certo ponto) com o mal – o diabo, representação do que é contrário à obra divina.

Também já tivemos ocasião de afirmar aqui que o mal não tem existência real, ao contrário do bem, sendo apenas criação meramente humana, transitória portanto. Somente a criação divina tem realidade, de modo que as circunstâncias que envolvem nossa passagem pelo planeta são quase todas ilusórias e só conseguimos vislumbrar essa verdade a partir de um ângulo superior, subindo a “um monte muito alto” qual seja a própria dimensão espiritual. É esse o convite do Espiritismo, que enfatiza a lição de Jesus quanto a estarmos no mundo e não pertencermos a ele, a fim de que, raciocinando, saibamos discernir entre o erro (as ilusões) e a verdade. Tal é o esforço a que os Espíritos estão submetidos durante sua encarnação, a fim de se elevarem para Deus pelo exercício do amor e pela conquista da sabedoria.

Assim, o que essa passagem quer nos mostrar é o quanto nossos olhos destreinados se deixam encantar pelo brilho falso dos “reinos” do mundo – e eles não se referem exatamente aos potentados como era, àquela época, o Império Romano. São, em verdade, algo ao alcance das mãos, como o poder temporal que fascina a classe política, por exemplo; a riqueza, ou o ganho fácil, a despeito das duras consequências que isso possa trazer; e tudo o que constitua fruto da natureza material e sensualista do homem no mundo. Em suma, tudo que se prenda à doença que mais agride a Humanidade em todos os tempos: o materialismo, inimigo (o diabo) a que o Espiritismo veio dar combate através do despertamento do homem para sua condição de Espírito imortal momentaneamente ocupando um corpo material.

A imortalidade está devida e suficientemente provada desde a ressurreição do Cristo – e muito já se escreveu sobre isso, embora a incredulidade ainda campeie entre nós – e vem sendo paulatinamente comprovada pela fenomenologia espírita, objeto dos estudos científicos elaborados por Allan Kardec, embora iniciados muito antes da Revelação, porquanto no século XVIII “os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus” (*) já começassem a inspirar muitos sábios precursores da Doutrina codificada em Paris a partir de 1850. Somente nossa miopia espiritual faz com que não enxerguemos tal verdade e nos deixemos levar ainda pelos enganos do mundo, quais cegos que, guiados por outros cegos, encaminham-se invigilantemente para o abismo, como bem ponderou o Mestre.  

(*) Referência ao prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo.


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