Esta data no Evangelho (29 de abril)

Francisco Muniz - 




De acordo com um dito popular, o homem se realiza ao ter um filho, ao plantar uma árvore e ao escrever um livro. O espírito dessa sentença parece dar o mote para os comentários que faremos hoje, dia 29 de abril, no prosseguimento de nosso estudo de temas do Novo Testamento. É que vamos abordar o texto do versículo 29 do capítulo 4 do Evangelho de Marcos, que traz a seguinte redação, conforme a Bíblia de Jerusalém, que o coloca sob a epígrafe “Parábola da semente que germina por si só”:

“Quando o fruto está no ponto, imediatamente se lhe lança a foice, porque a colheita chegou.”

Creio valer a pena contar essa parábola aqui, sendo ela curtinha. Jesus diz que “o Reino de Deus é como um homem que lançou a semente na terra: ele dorme e acorda, de noite e de dia, mas a semente germina e cresce, sem que ele saiba como. A terra por si mesma produz o fruto: primeiro a erva, depois a espiga e, por fim, a espiga cheia de grãos” (Marcos 4:26 a 28). É então que o fruto, estando “no ponto”, sofre a ação da foice, na colheita. O Messias alude, aí, tanto às leis da biologia, que só seriam descobertas (*) séculos à frente, quanto à finitude do corpo material, fazendo uma bela metáfora da morte física que acomete o homem quando ele está pronto para a partida em demanda do mundo espiritual, uma vez tendo realizado suas tarefas no plano terreno.

A morte, portanto, é a porta de entrada no Reino dos Céus, mas desde que o ser passe pelas transformações necessárias a tal procedimento, de modo que não basta simplesmente morrer, é preciso que a semente – a alma – se tenha despojado conscientemente da casca que a retém na terra – o elemento material – e, enfim liberta, retorne a seu ambiente original, ressuscitando para a verdadeira vida. Aprender a morrer, portanto, é a necessidade de cada um de nós durante a encarnação – e foi isto que Jesus veio nos ensinar, tanto através da simplicidade de suas parábolas quanto, principalmente, por seu exemplo sacrificial. Isso significa não temermos esse momento, compreendendo se tratar de um episódio natural cuja finalidade é nos recambiar para nosso mundo de origem, o plano espiritual, quando já não há mais o que se fazer por aqui.

É, ainda e sempre, mais uma lição de desapego à matéria, que embota nossas faculdades espirituais e promove a ilusão dos sentidos, fazendo-nos tanto demorar na prisão quanto a temer os convites à libertação, preferindo nos manter na ignorância de nós mesmos. No entanto, a libertação só vem pelo aprendizado resultante dos esforços voltados para o autoconhecimento, no que a Doutrina Espírita nos auxilia bem mais que qualquer outra corrente filosófica ou religiosa, sendo o Espiritismo, assim, um verdadeiro e eficaz curso de educação para a morte e o morrer, ensinando-nos a desencarnar. Morrer, muitos morrem, chegando ao mundo espiritual confusos, perdidos mesmo, verdadeiros clandestinos; mas poucos desencarnam, para que haja a plena readaptação ao ambiente que nos é próprio.

E isso porque muitos acreditam em conceitos equivocados que nos distanciam da realidade do Espírito imortal, como o dizerem que a morte é o sono ou o descanso eterno; ou que ela conduz a um céu de beatitude ou a um inferno de condenação eterna; ou, ainda, que ela é o fim de tudo, após o que nos desintegramos, como se fosse possível, ou mesmo lógico, deixarmos de existir. A morte, de acordo com as orientações de Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, é um dos instrumentos da Lei de Destruição e toda destruição é transformação, conforme nos dizem os Espíritos superiores. Nosso sistema solar e, dizem os cientistas, todo o Universo nasceu após uma explosão que resultou nas maravilhas que nossos olhos admiram. Não precisamos, portanto, temer esse momento que pode ser grandioso para a alma, desde que ela se esclareça.

(*) O mérito dessas descobertas recai sobre os naturalistas Jean-Batiste Lamarck, francês, e Charles Darwin, inglês, no século XIX, que aproveitaram os esforços pioneiros do filósofo grego Aristóteles (séc. IV a.C.).


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