Esta data no Evangelho (28 de abril)

Francisco Muniz - 



Nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento nos leva hoje, dia 28 de abril, ao versículo 28 do quarto capítulo da Epístola de Paulo aos Gálatas, o qual comentaremos de acordo com o aprendizado da Doutrina Espírita. Nesse texto, que recolhemos da Bíblia de Jerusalém, o Apóstolo dos Gentios nos fala das “duas alianças: Agar e Sara”, como reza a epígrafe. Ei-lo:

“Ora, vós, irmãos, como Isaac, sois filhos da promessa.”

Paulo de Tarso, o missivista, continua falando-nos sobre a fidelidade de Abraão a Deus, agora aludindo às duas mulheres mais relevantes na vida do primeiro grande Patriarca dos hebreus: sua esposa Sara e a escrava Agar. De idade avançada, o casal não tinha filhos, mas o emissário de Deus que se manifestava a Abraão, autonomeado Iahweh, ou simplesmente Iavé, ou Javé, havia lhe prometido uma progenitura que cobriria todo o mundo, o que efetivamente se deu, considerando-se que a crença de Abraão no Deus único sobrepujou formalmente (*) o politeísmo e originou os três grandes ramos religiosos do tronco monoteísta: o judaísmo (a estrela), o cristianismo (a cruz) e o islamismo (a meia lua).

À semelhança do que aconteceu mais tarde com Zacarias e Isabel (**), Abraão estava incomodado pelo fato de ser um homem velho, assim como sua esposa que, do ponto de vista da Biologia, já não podia conceber. Sara, então, tem a ideia de pedir à sua serva Agar, bem mais nova que ela, que se deite com seu marido, e assim ela concebe Ismael, nome que significa “Deus ouviu”. Pouco tempo depois, Sara fica grávida e dá à luz Isaac (“Deus irá”). É através deles dois que Deus cumpre a promessa feita a Abraão, razão pela qual Paulo de Tarso afirma serem os gentios também “filhos da promessa”, porquanto não somente os descendentes do primogênito e filho legítimo Isaac, mas também os do bastardo Ismael merecem o beneplácito do Senhor.

Paulo, assim, observa as duas alianças firmadas com Deus a partir da “promessa”: aquela estabelecida pela escravidão, referindo a condição do Espírito imortal retido provisoriamente na prisão de carne – o corpo material –, que ele identifica na cidade de Jerusalém, localizada na Ásia, ou, mais propriamente, na (região da) Arábia, porque Agar era árabe; e a outra, formada a partir da liberdade representada por Sara, que o apóstolo identificará com a Jerusalém do Alto, ou seja, a própria dimensão espiritual, onde somos verdadeiramente livres, uma vez libertos das limitações da matéria. Sob tais pontos de vista, somos todos – não importando a crença ou a denominação religiosa professada –, realmente, “filhos da promessa”.

Essa “promessa” constitui a amorosa assistência divina para com todos os filhos de Deus, o que se evidenciaria cerca de dois mil anos após a época de Abraão, quando Jesus (o mesmo Iavé que comunicava com o Patriarca, como a Moisés, mais tarde) veio nos apresentar o Pai de amor e misericórdia. Na atualidade, o Espiritismo, reafirmando as lições de Jesus, complementando-as e lhes retirando o véu de mistério a fim de se tornarem mais inteligíveis, enfatiza a dimensão dessa promessa ao conceituar o Criador (***) como a inteligência suprema, a causa primária de todas as coisas que tem entre seus atributos a condição de ser soberanamente justo e bom.

Notas

(*) Dizemos assim porque as manifestações politeístas, isto é, a crença em vários deuses, não desapareceram do todo das expressões religiosas da Humanidade.

(**) Pais de João, o futuro batista.

(***) Conforme lê-se em O Livro dos Espíritos.


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