Esta data no Evangelho (24 de abril)

Francisco Muniz - 



Nosso estudo de temas da Boa Nova que Jesus nos trouxe chega hoje, dia 24 de abril, a uma marca importante e, para marcarmos estes 300 comentários sobre algumas passagens do Novo Testamento, vamos abordar o versículo 24 do quarto capítulo do Evangelho de João, sempre sob a inspiração da Doutrina Espírita. Eis o texto joanino, recolhido, como de hábito, das páginas da Bíblia de Jerusalém:  

“Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.”

São, naturalmente, palavras de Jesus, o Cristo (que significa “ungido” em grego) de Deus, fazendo-nos reconsiderar, desde dois mil anos atrás, nossa concepção da Divindade, para o que o Espiritismo muito nos auxilia, ao revelar que Deus não é uma pessoa (nem mesmo três!). Albert Einstein, o maior cientista do século XX, dizia acreditar no Deus que criou os homens, e não no Deus que os homens criaram, porque, dizemos nós, esse Deus que criamos, antropomorfizado, tem nossas mesmas características morais, ou seja, as mesmas paixões, os mesmos defeitos. É um Deus, portanto, mitológico que nada tem daquele Pai amoroso, justo e compassivo apresentado pelo Rabi nazareno.

Mas o que significa dizer que Deus é espírito? Que vem a ser o, ou um, espírito? A resposta a tais perguntas nós a encontramos na primeira parte de O Livro dos Espíritos, logo na primeira questão feita por Allan Kardec – “Que é Deus?” –, na sustentação do edifício doutrinário do Espiritismo. O Codificador intuía que Deus não podia ser “alguém”, de modo que não utilizou o pronome quem em sua indagação. A resposta dos Espíritos Superiores vem tão sintética quão cristalina: Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Inteligência, portanto, é sinônimo de espírito, daí porque o Cristo, falando a Espíritos – principalmente aos encarnados –, pede-nos que usemos a inteligência para adorar a Inteligência Suprema.

Kardec, em sua tarefa de desbravador da realidade espiritual, também quis saber o que é o espírito, sendo informado pelos Luminares do espaço de que ele é o princípio inteligente do Universo cuja fonte é o próprio Deus. Os Espíritos, assim, trazem em si mesmos a essência divina mas não são partes da Divindade, que esta é indivisível, de forma que o modo como Deus cria os Espíritos é, para nós, ainda inconcebível, de acordo com a informação dos auxiliares do Cristo que assessoraram o sábio lionês na obra da Codificação (*). O máximo que puderam dizer a esse respeito foi que toda a Criação foi feita por vontade de Deus (**). O resto é só especulação de nossa parte.

A adoração a Deus, assim, é e deve ser feita “em espírito e verdade”, o que nos afasta do politeísmo e da idolatria, manifestações primárias do conhecimento humano quanto a suas expressões no campo da Religião. Quando, enfim, atingimos o amadurecimento psicológico capaz de nos fazer entender a dimensão divina, ou espiritual, esclarecemo-nos quanto ao que Jesus revelou sobre o Reino de Deus, ou dos Céus, e modificamos radicalmente a forma pela qual nos relacionamos com o Criador; então tornamo-nos conscientes de nós mesmos e de nosso papel na Criação, apresentando-nos como cocriadores junto ao Pai. Isto constitui, pois, a verdadeira adoração.

Notas

(*) Especificamente, as cinco obras básicas da Doutrina Espírita, começando do supracitado O Livro dos Espíritos e seguindo com O Livro dos Médiuns; O Evangelho Segundo o Espiritismo; O Céu e o Inferno; e A Gênese.

(**) Ver a Segunda Parte de O Livro dos Espíritos.


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