Francisco Muniz -
A Carta de Judas é a última das epístolas católicas (universais) relatadas no Novo Testamento, antes do Livro da Revelação, o Apocalipse. É dela, do versículo 23, que extraímos o assunto dos comentários que faremos hoje, dia 23 de abril, em prosseguimento deste estudo iniciado há algum tempo com o propósito de compreendermos melhor algumas passagens do Evangelho de Jesus. Eis, portanto, o texto, retirado, como tem sido amiúde, da Bíblia de Jerusalém:
“(...) a outros procurai salvar, arrancando-os ao fogo;
de outros ainda tende misericórdia, mas com temor, aborrecendo a própria veste
manchada pela carne.”
Esse versículo é colocado sob a epígrafe “Os deveres da
caridade” e, como se encontra “quebrado”, nosso dever é informarmos o que seja
imediatamente anterior, de modo que vamos ao 22, onde o missivista conclama: “Procurai
convencer os hesitantes (...)”, recordando-nos a missão que Jesus confiou a
seus discípulos ao longo dos evos (*). Em O Evangelho Segundo o Espiritismo,
o Espírito Erasto, que fora discípulo de Paulo de Tarso, sintetiza a missão dos
espíritas, os trabalhadores da última hora referidos pelo Mestre Nazareno, na
expressão “ide e pregai” (**).
Entendemos, desse modo, que a conclamação de Judas – aqui se
trata do apóstolo que passou a ser conhecido como Judas Tadeu e é identificado como um dos irmãos de Jesus – traz três
preciosos temas para nossa apreciação. O primeiro deles é quanto à salvação
daquele que, junto a nós, esteja atormentado pelo fogo das provações, tendendo
a sucumbir. O que se pode fazer nesses casos é oferecer todo amparo que a
caridade nos exija, seja orientando quanto à mudança de atitude perante a
situação aflitiva, seja oferecendo meios concretos para a superação da situação
difícil. Nesse sentido, a caridade nos impõe, muitas vezes, caminharmos dois
quilômetros com alguém que precise que nos solicite andarmos apenas um,
conforme o ensinamento do Cristo (Mateus 5:41).
O segundo ponto é a misericórdia, ou compaixão, que devemos
ter para com todos que se encontram perdidos nas trevas da própria ignorância,
recordando a lição de Jesus informando-nos de que “Deus não quer sacrifício, mas
misericórdia” (***), significando que a rudeza por vezes violenta do próximo
não é motivo para tratá-lo de igual maneira, porquanto é dever dos servidores
do Cristo pagarmos todo mal com o máximo de bem que possamos fazer. Afinal, são
“bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”, segundo disse
o Mestre no Sermão da Montanha (Mateus 5:7).
Por fim, o missivista nos propõe agir “com temor”, isto é,
respeitando a vontade de Deus e a própria recomendação do Cristo – o que quer
dizer a mesmíssima coisa – até mesmo à custa do sacrifício da própria vida,
sendo este o significado da expressão “aborrecer a veste manchada pela carne”.
Aprender a morrer, para que disto resulte a ressurreição, é o ensinamento máximo
de Jesus, o que vemos enfaticamente nas lições do Espiritismo, onde enxergamos
um curso de educação para a morte, recordando ao Espírito imortal que ele não
se confunde com o corpo material. Temos aí, portanto, um roteiro para nossa
própria salvação, se soubermos trilhar o caminho proposto por Jesus para um dia
alcançarmos a redenção de nossos muitos erros.
Notas
(*) Evo: duração sem fim; eternidade, perpetuidade.
(**) Cap. XX, item 4 das Instruções dos Espíritos.
(***) Jesus, em Mateus 9:13, cita o profeta Oseias 6:6.
Gratidão amigo querido. Esses esclarecimentos salutares nos movem a querer sempre mais, estar juntinho de Jesus!
ResponderExcluirSigamos juntos, Jô. Assim asseguramos a chegada, o encontro com o Mestre.
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