Francisco Muniz -
O desprendimento, ou desapego, é o tema que o versículo 22
do quarto capítulo do Evangelho de Mateus oferece para nossos comentários neste
dia 22 de abril, dando prosseguimento ao estudo de algumas passagens do Novo
Testamento sob a luz esclarecedora da Doutrina Espírita. Eis o texto,
recolhido, como habitualmente, na Bíblia de Jerusalém:
“Eles, deixando imediatamente o barco e o pai, o
seguiram.”
“Eles”, aqui, são os irmãos Tiago e João, igualmente
convocados ao trabalho com Jesus enquanto consertavam, às margens do mar da
Galileia, as redes de pesca, na companhia do pai de ambos, Zebedeu. Notemos um
paralelo entre esse versículo e o que fecha o episódio da convocação de outros
dois irmãos, Pedro e André: “Eles, deixando imediatamente as redes, o seguiram”
(Mateus 4:20). Salta aos olhos o advérbio usado pelo evangelista nos dois
casos, acusando a irresistibilidade do chamamento do Mestre, fazendo com que os
convocados não vissem nada mais importante na vida do que servir ao Cristo – e,
de fato, é assim! Por isso os dois primeiros abandonam as redes, algo material,
ao passo que os dois últimos deixam até mesmo seu pai, mostrando que o amor a
Deus deve superar o amor que dedicamos às coisas e às pessoas, por mais conflitos
que esse pensamento/atitude suscite.
Já tivemos oportunidade de afirmar, aqui e alhures, que, ao
lado do amor, o Evangelho de Jesus nos ensina primordialmente a lição do desapego
à realidade material, uma vez que, na condição de Espíritos (re)encarnados, mais
cedo ou mais tarde seremos forçados a interromper as experiências na carne. Relembrando
que desapego não significa abandono, mas libertação do sentimento das amarras
materiais, consideremos que nossa principal tarefa no mundo é nos aproximarmos
o quanto possível do Reino de Deus, consoante as lições do Cristo. “Estais no
mundo, mas não pertenceis a ele”, disse-nos o Nazareno, estimulando-nos à
renúncia de nós mesmos quanto ao que temos de perecível (não só o corpo, mas as
ideias, conceitos e pensamentos vinculados à realidade do ego), em função dos
sentimentos purificados à luz da Verdade.
Discernir entre o que é perene, permanente, e o que é
desprezível não é muito fácil porque este, travestido com a roupa colorida da
ilusão, aproveita-se do fato de que nossas faculdades espirituais estão relativamente
obnubiladas durante o périplo terreno para se impor sobre nós. É nesse sentido
que o Espiritismo, oferecendo-se como nosso mais precioso aliado no combate ao
materialismo, vem nos socorrer, escancarando os perigos a que o Espírito
imortal está sujeito enquanto encarnado. Por essa razão é que Jesus explicou
que não devemos temer aqueles que podem matar o corpo, mas não podem matar a
alma; os arrastamentos do mal, contudo, comprometem enormemente a alma, de modo
que devemos ser e estar constantemente vigilantes, discernindo o erro da verdade,
usando adequadamente a inteligência.
Assim, ao escutarmos o apelo inaudível do Cristo na acústica
da consciência para trabalharmos em sua seara, saibamos largar tudo que estejamos
fazendo no momento e atendamos ao chamado do Amigo Divino, certos de que com
isso obteremos benefícios incalculáveis. Para tanto, temos de estar em
prontidão, uma vez que a seara é grande e faltam trabalhadores de boa vontade,
porquanto muitos de nós ainda estamos apegados a nossos negócios, a nossos bens
e a nossos familiares, julgando, equivocadamente, que eles nos pertencem e que pertencemos a eles. O
resultado desse apego, quando somos forçados à separação, é a dolorosa e amarga
decepção, quando não o desespero seguido de queixas, reclamando da “injustiça”
de Deus...
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Abra sua alma!