Esta data no Evangelho (21 de abril)

Francisco Muniz - 




Voltamos hoje, dia 21 de abril, ao relato do evangelista Lucas em Atos dos Apóstolos para, no versículo 21 do capítulo 4, aprendermos mais um pouco acerca do comportamento de “Pedro e João diante do Sinédrio” – esta é a epígrafe do texto que tentaremos comentar nesta data, pelo prisma do Espiritismo. Eis a narrativa da Bíblia de Jerusalém:

“Então, depois de novas ameaças, soltaram-nos, não encontrando nada em que puni-los, também por causa do povo: todos glorificavam a Deus pelo que acontecera.”

A lição indica que quem tem a consciência tranquila, decorrente do estrito cumprimento dos deveres que lhe dizem respeito, é indene de culpa (eu ia dizer inocente, mas do ponto de vista espiritual não há culpados nem inocentes, como não há vítimas nem algozes, apenas seres com responsabilidades que foram neglicenciadas em algum momento da jornada evolutiva) perante Deus, ainda que as leis humanas, que podem ser distorcidas de acordo com interesses sub-reptícios, mostrem o contrário. Desse modo, vale recordarmos o dito popular segundo o qual “quem não deve não teme”.

Conta-se que um homem muito querido pelo povo fora levado a julgamento por um crime de que fora acusado injustamente. No tribunal, preparado para a condenação desse homem, pois sua atuação na sociedade incomodava os poderosos de plantão, o juiz, para simular um processo justo, propôs ao condenado uma alternativa: mostrou a ele dois pedacinhos de papel dobrados, dizendo que neles estavam escritas, respectivamente, as palavras “inocente” e “culpado”. A que o acusado escolhesse seria, assim, sua condenação inapelável ou sua libertação.

Ora, o homem sabia que o queriam condenado, compreendendo que a ação do juiz era meramente um engodo. Assim, com presença de espírito, tomou um dos papéis e simplesmente o engoliu. Contrariado, o magistrado não teve outra saída a não ser abrir o papel que sobrara e mostrar a todos a palavra “culpado”, indicando que o réu escolhera exatamente seu salvo-conduto, sendo, pois, libertado.

No caso de Pedro e João, eles foram presos e julgados pelo Sinédrio (*) por realizarem curas em nome de Jesus, a quem os chefes dos sacerdotes do Templo de Jerusalém haviam feito matar. As ameaças foram feitas no sentido de que os apóstolos suspendessem as pregações em nome do Messias, embora o povo, movido por suas necessidades, os procurasse, em busca dessas consolações que só a Misericórdia divina pode proporcionar.

Ora, o Cristo ensinou, no Sermão do Monte, que são bem-aventurados os que sofrem perseguição da justiça por causa de seu nome, como também nos orientou a não temermos os inimigos do Bem, aqueles que só podem matar o corpo, porquanto “somente lobos caem em armadilhas de lobos”. Contudo, disse o Mestre ser necessário agirmos sempre com cautela, sendo “mansos como as pombas e prudentes como as serpentes” (Mateus 10:16).

Em razão dessas ponderações judiciosas do Nazareno, hoje o Espiritismo nos conclama a, cada vez mais, darmos “a outra face” compreendendo a enfermidade moral de nossos ofensores e, o quanto possível, estendendo-lhes a mão para que se reabilitem, porque o mesmo Deus faz para conosco, para com cada um de seus filhos misérrimos. É por isso que o Espírito de Verdade – o Cristo! – diz-nos em O Evangelho Segundo o Espiritismo (*): “Estou muito tocado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa imensa fraqueza, para não estender mão segura aos infelizes transviados que, vendo o céu, tombam no abismo do erro”.

Notas  

(*) O Sinédrio é a associação de 20 ou 23 juízes que a Lei judaica ordena existir em cada cidade. O Grande Sinédrio era uma assembleia de juízes judeus que constituía a corte e legislativo supremos da antiga Israel.

(*) Cap. VI, item 5 das Instruções dos Espíritos (“Advento do Espírito de Verdade”).


Comentários

  1. Que sábio esse homem. Imaginar que hoje é tão mais fácil falar de Jesus, segui-lo. Tão fácil, basta querer. E muitas vezes ,(vou falar de mim). Eu não faço.

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  2. É verdade, Jô. Parece fácil, mas não basta querer. Como na Parábola do Festim de Bodas, é preciso vestir a tal roupa nupcial, ou seja, desvestir-nos dos hábitos antigos, renunciando a nós mesmos...

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