Francisco Muniz -
A Bíblia de Jerusalém, que serve de apoio a este estudo de algumas passagens do Novo Testamento, apresenta-nos hoje, dia 20 de abril, o versículo 20 do quarto capítulo da Primeira Epístola de João para os comentários que fazemos abaixo, com base no aprendizado da Doutrina Espírita. Colocado sob a epígrafe “À fonte da caridade”, o texto integra a terceira parte dessa Carta, intitulada “Às fontes da caridade e da fé”. Ei-lo:
“Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é
um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê,
não poderá amar.”
A começar de Caim e Abel, as rusgas entre irmãos, pelos mais
diversos motivos, são uma constante na Terra, o que é compreensível em se
tratando de um mundo onde as relações interpessoais se pautam, ainda, pelas
paixões inferiores vinculadas ao orgulho e ao egoísmo, malgrado as lições
voltadas para as manifestações recíprocas de amor e fraternidade. Em meu artigo
“Meu irmão pecou contra mim”, disponível no blog Alma Espírita (*), eu
me estendo um pouco acerca dessa questão, observando o comportamento de algumas
duplas de irmãos consanguíneos apresentados no Novo Testamento. A intenção é
compararmos tais atitudes com nossas experiências em família de modo a extrairmos
algum aprendizado que facilite a convivência com os irmãos. Para isso, ofereço
reflexões acerca dos “sete pecados capitais” da Teologia, identificando como
cada um deles interfere em nossas relações.
De qualquer modo, desde que Jesus nos trouxe o novo padrão
comportamental que deve reger os relacionamentos entre os irmãos, a partir do
reconhecimento de que, não importando a consanguinidade, todos somos filhos do
mesmo Pai e que esse Pai nos ama extremamente e se manifesta através de cada
uma de suas criaturas, alguma coisa deve mudar em nós. Essa constatação nos obriga, ao menos, a reconsiderarmos
a importância da vida em comum e, por fim, a maneira pela qual Deus, o Criador
e mantenedor de todas as expressões de vida, trata a cada um de nós, para
também procedermos de forma similar, porquanto essa é sua vontade. Pensando assim,
torna-se imprescindível pormos em prática o que já conseguimos assimilar das
lições evangélicas, nas quais o Cristo nos exorta a amar a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Portanto, havemos de concordar “ipsis litteris” com o evangelista
João: quem diz amar a Deus nega esse amor quando despreza seu próximo,
tornando-se “réu no juízo”, isto é, cria para si mesmo, no foro íntimo da própria
consciência, um estado culpável que terá de corrigir, mais cedo ou mais tarde,
através dos instrumentos libertadores do perdão e da reparação. Certo, não
vemos a Deus, mas ele está representado em cada um de seus filhos e o adoramos
nos esforços de compreensão, respeito e aceitação do outro como ele é, como se
encontra, sabedores de que, tanto quanto nós, ele também está destinado ao
progresso e caminha da maneira como sabe e como pode, talvez necessitando de
nossa colaboração, caso nos vejamos um pouco mais aquinhoado, o que aumenta, em
muito, nossa responsabilidade para com o próximo.
Observando-se a situação por esse prisma, compreendemos
melhor a resposta de Jesus à pergunta de Pedro, que certa vez questionou o
Mestre sobre quantas vezes deveria perdoar seu irmão que havia pecado contra
ele. A lei mosaica prescrevia perdoar até sete vezes, após o que o
infrator/ofensor/agressor deveria ser levado às barras dos tribunais, no
Sinédrio. Contudo, o Messias, que disse ter vindo para cumprir a Lei de Deus,
soberana, perfeita e imutável, respondeu que o perdão não devia ser ministrado
até sete vezes, mas “até setenta vezes sete vezes” (Mateus 18:21-22). Ou seja, o
perdão, entre nós, deve ser um exercício constante, a fim de que um dia também
mereçamos o perdão divino para nossos muitos pecados...
(*) O endereço é https://almaespirita.blogspot.com/2021/04/cinco-de-dois.html
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