Francisco Muniz -
Neste dia 2 de abril nosso estudo de temas do novo Testamento
nos leva a comentar o segundo versículo do capítulo 4 da Primeira Epístola de
João, sob a inspiração do Espiritismo, revelado aos homens para explicar e
complementar os ensinos do Mestre Jesus. Eis o texto sob nossa análise,
recolhido da Bíblia de Jerusalém:
“Nisto reconheceis o espírito de Deus: todo espírito que
confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus (...)”
Antes de mais nada, importa dizer que o texto é colocado sob
a epígrafe “Terceira condição: preservar-se dos anticristos e do mundo” e que
nas reticências esconde-se este complemento: “(...) e todo espírito que não
confessa Jesus não é de Deus; é este o espírito do Anticristo. Dele ouvistes
dizer que ele virá; e agora ele já está no mundo” (1 João 4:3). Também é
necessário informar que a passagem em exame corresponde à importantíssima
recomendação do evangelista para os médiuns hoje orientados pela Doutrina
Espírita: “Caríssimos, não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os
espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo”
(1 João 4:1).
Essa primeira Carta de João traz, em suas três partes, uma
série de advertências no sentido de manter os cristãos no caminho reto e
luminoso da estreita convivência com o Cristo, através do cumprimento de suas
lições. Assim é que na primeira parte (“Caminhar na luz”) ele propõe romper com
o pecado (1), observar os mandamentos, principalmente o da caridade (2),
preservar-se do mundo (3) e preservar-se dos anticristos (4); na segunda parte (“Viver
como filhos de Deus”) ele repete as recomendações, porém juntando as duas
últimas numa só, sintetizando tudo na terceira parte, indicando, para que se tenha
sucesso na caminhada, recorrer-se “Às fontes da caridade e da fé”.
É dessa maneira, portanto, que conseguiremos nos manter
relativamente a salvo das influências nefastas que certos Espíritos
desencarnados podem exercer sobre nós, os encarnados, malgrado nosso empenho em
nos mantermos na retidão comportamental. O fato é que dá-se conosco exatamente
como os Reveladores informaram a Allan Kardec: somos influenciados a tal ponto
que ordinariamente são eles – os Espíritos – que dirigem nossa vida (*). Essa
informação tanto explica os casos de obsessão espiritual quanto nossa
responsabilidade nesse processo, porquanto podemos escolher, uma vez detentores
da faculdade do livre arbítrio, nossas companhias invisíveis.
Segundo o que Kardec aponta em O Livro dos Médiuns,
obra que, assim como A Gênese, desenvolve o aspecto científico do
Espiritismo, os Espíritos integram um mundo invisível e paralelo à realidade física
e praticamente se acotovelam conosco, os pretensos “vivos”. Não são seres à
parte da Criação, mas as almas dos homens, bons e maus, que viveram na Terra,
de modo que, preservando as mesmas características de quando aqui estiveram, posto
que a morte não modifica ninguém, são atraídos por nossos pensamentos e
emoções. Por tal razão é que o Cristo nos recomendou orar e vigiar
constantemente, para não sucumbirmos perante as insinuações maléficas daqueles
semelhantes ou inferiores a nós, do ponto de vista da moralidade.
Sendo todos nós médiuns, isto é, seres capazes de
intercambiar com os desencarnados, mesmo inconscientemente (este é o motivo
pelo qual necessitamos das recomendações de salvaguarda), paira sobre nossos
ombros a responsabilidade de nos moralizarmos o mais possível para não sermos surpreendidos
por essa ação nefasta, fruto de nossa própria invigilância.
Notas
(1) É preciso ter coragem para admitir nossa condição ainda inferior e sujeita aos erros.
(2) Aquele que afirma conhecer a Deus e ao Cristo mas não guarda os mandamentos, é mentiroso.
(3) Se alguém ama o mundo e seu cortejo de ilusões está distanciado do amor do Pai.
(4) O Anticristo é aquele que, divorciado da Verdade, nega a Jesus Cristo e ao Pai Criador.
(*) Ver O Livro dos Espíritos, questão 459.
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