Francisco Muniz -
Voltamos ao quarto capítulo do Evangelho de Marcos, onde é
contada a “Parábola do semeador”, para abordarmos o texto do versículo 17,
correspondente a este dia 17 de abril, que em 2022 foi festejado como o domingo da Ressurreição, posto ser a Semaana Santa uma festa móvel. Sob a epígrafe “Explicação da parábola do semeador”, o texto,
extraído da Bíblia de Jerusalém, segue abaixo, para nossos comentários
baseados no aprendizado do Espiritismo, continuando o estudo de temas do Novo
Testamento:
“(...) mas não têm raízes em si mesmos, são homens de
momento: caso venha uma tribulação ou uma perseguição por causa da Palavra,
imediatamente sucumbem.”
As reticências indicam parte da explicação do Mestre
nazareno, falando, nesse trecho, do solo pedregoso que recebeu algumas das
sementes: “São aqueles que, ao ouvirem a Palavra, imediatamente a recebem com
alegria...” A fé em Deus, que seria a terra propiciadora do processo de
germinação, é ainda incipiente neles, que acreditam muito mais nas expressões
materiais, na objetividade de sua própria condição humana, em seus sentidos
físicos, do que nas manifestações subjetivas do Espírito imortal, por lhes faltarem
a necessária compreensão quanto às noções de imanência e transcendência. Os
casos dos apóstolos Pedro e Judas Iscariotes são exemplares, nesse sentido, tendo
eles, por razões e em momentos distintos (*), sucumbido após uma tribulação.
Jesus pede, portanto, que saibamos preparar o terreno de
nosso coração, ou da alma, adubando-o, regando-o e protegendo-o suficientemente
para que as sementes nele depositadas possam germinar e, no tempo propício, produzir os frutos esperados. Essas raízes de que ele fala são o resultado do trabalho
íntimo no sentido do autoaprimoramento, havendo o Espírito se predisposto ao
novo aprendizado, abrigando a Palavra, isto é, as determinações da Lei divina,
na mente condicionada para o conhecimento da Verdade que liberta. Esse homem é o
que já deu os passos na direção de seu despertamento, enquanto outros de seu
meio ainda se encontram espiritualmente adormecidos, nos quais as sementes são
recebidas com indiferença.
O fato é que, sendo a Terra um mundo destinado ao
aprendizado dos Espíritos, aqui tudo é fenomênico, e esses fenômenos observados
no elemento material são os efeitos do que é causado na dimensão espiritual, no
que se chama psicosfera, a ação da mente em constante projeção. Quando não se
compreende isso, não há como controlar as consequências perturbadoras – as tribulações
de que fala o Cristo. Somos quase todos, assim, esses “homens de momento”, que
seguem pela vida como folhas ao sabor dos ventos. As lições de Jesus, portanto,
somente podem ser assimiladas, para serem devidamente vivenciadas, quando nos
cansamos verdadeiramente de, como se diz, “dar murros em ponta de faca”, isto
é, quando de fato percebemos que nossos esforços no mundo não nos levam a
nenhum lugar alvissareiro, o que só é encontrado e experimentado no campo do
Espírito imortal.
A vida é pródiga desses exemplos que a literatura espírita
reproduz com abundância, comprovando o que o Cristo nos ensina desde dois mil
anos atrás e o Espiritismo, doutrina que confirma o Cristianismo, revivendo-o
em sua essência, evidencia, através dos relatos pungentes dos próprios
protagonistas de além-túmulo. É imprescindível, pois, abrirmos os olhos para as
expressões superiores da vida verdadeira e, libertando-nos paulatinamente das
ilusões do ego, reafirmemos o compromisso assumido com o Cristo e com a própria
consciência, no sentido de crescermos para Deus, evoluindo pelo aprendizado que
nos fará novos e melhores homens.
(*) Referimo-nos ao instante em que Judas se desilude,
entregando-se ao remorso que culminou no suicídio desse apóstolo, e ao sentimento de culpa que dominou Pedro após a
tripla negação.
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