Esta data no Evangelho (15 de abril)

Francisco Muniz - 


Hoje, dia 15 de abril, data que marca o lançamento, há 160 anos, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em Paris, por Allan Kardec, nosso estudo de temas do Novo Testamento contempla o versículo 15 do quarto capítulo da Epístola de Tiago. O texto, recolhido da Bíblia de Jerusalém, nós o abordaremos de acordo com o aprendizado da Doutrina Espírita, que Léon Denis conceituou como o futuro das religiões. Ei-lo:

“Em vez de dizer: ‘Se o Senhor quiser, estaremos vivos e faremos isto ou aquilo’ (...)”

Antes de mais nada, vejamos o que se esconde nas reticências entre parênteses, para compreendermos, com alguma integridade, o pensamento do apóstolo de Jesus, indo ao versículo seguinte: “(...) vós vos jactais [*] de vossas fanfarronadas! Ora. Toda jactância desse gênero é má.” O versículo 17 conclui esse pensamento: “Assim, aquele que sabe fazer o bem e não o faz incorre em pecado.” Não informei na abertura deste artigo, mas a epígrafe das palavras de Tiago é “Admoestação aos ricos”, o que remete à lição do Cristo sobre o comportamento, muito “humano”, isto é, dos homens dominados pelo materialismo, de acumular bens materiais, em detrimento das necessidades da própria alma.

Conheci, há tempos, um expositor espírita, bastante conceituado entre nós, cujas ideias se aproximavam dessa admoestação do apóstolo Tiago, porquanto questionava a expressão “graças a Deus” na resposta à pergunta-cumprimento “como vai?”. Segundo ele, estamos bem graças ao nosso próprio esforço, aos cuidados que temos para com a saúde e o bem-estar físico e mental, de modo que Deus nada teria a ver com isso. Hoje, que se encontra na Espiritualidade, por certo já teve ocasião de rever seus critérios e mudado de opinião, reconhecendo que, ainda que nos esforcemos sobremaneira por manter a sanidade e o equilíbrio, tudo isso devemos ao Criador, que nos oferece a oportunidade e os recursos para tudo conquistarmos.

É necessário, pois, tanto agradecermos quanto reconhecermos que, sem a anuência do Altíssimo, tudo que fizermos durante a encarnação serão tentativas infrutuosas, porquanto nossas expectativas devem estar apontadas para a vida futura, conforme nos recomenda Allan Kardec. Isto significa balizarmos cada uma de nossas atividades no mundo pelo padrão do Espírito imortal e não do ponto de vista da personalidade transitória. Bem explicado, a personalidade é o papel que o Espírito, o ator principal da peça, representa no palco da vida material, daí sua transitoriedade. No Evangelho de Tomé, considerado apócrifo, Jesus dá este ensinamento a seus discípulos: “Se perguntarem o que vocês são, digam que são transeuntes”. De fato, estamos de passagem, estando no mundo sem pertencermos a ele.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec faz, a esse respeito, uma bela analogia ao considerar a ação de um homem caminhando no deserto, sofrendo a tortura da canícula e da sede, ansiando por encontrar um oásis que lhe ofereça a água com que se dessedentará. Encontrando-o, pela providencial assistência divina, poderá dizer: “Que sorte!”, acreditando no simples acaso; mas, se tiver fé, dará graças ao Criador, que efetivamente fez, faz e fará tudo em benefício de suas criaturas. Deus é o Pai amantíssimo por Jesus no Novo Testamento, e não o Senhor dos Exércitos, vingativo e cruel apresentado pelo Velho Testamento, justificando as palavras do cientista Albert Einstein: “Eu acredito no Deus que criou os homens e não no Deus que os homens criaram”. Deus, portanto, é o oásis no deserto de nossas almas.

(*) O mesmo que jactanciar(-se): demonstrar um orgulho excessivo sobre suas próprias qualidades; vangloriar-se de seus méritos e conquistas.


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