Francisco Muniz -
Iniciamos este mês de abril com o firme propósito de, neste
estudo de algumas passagens do Novo Testamento, ocuparmo-nos apenas com o
capítulo 4 de cada um dos livros que o constituem, de modo que hoje, dia 1,
buscamos o Evangelho de Mateus, deparando-nos, mais uma vez, com os textos colocados
sob a epígrafe “Tentação no deserto”. Recordando que nossos comentários são
feitos conforme o aprendizado da Doutrina Espírita, eis, portanto, o que a Bíblia
de Jerusalém nos diz:
“Então Jesus foi levado pelo Espírito para o deserto,
para ser tentado pelo diabo.”
Já tivemos oportunidade de dizer aqui que os acontecimentos
da vida de Jesus são uma representação de nossa própria vida espiritual, ou
melhor, de nossas experiências no caminho da evolução. Em sua condição humana, o
Mestre permitiu-se, embora Espírito puro de elevada hierarquia angelical, passar
pelas vicissitudes a que estamos sujeitos durante a encarnação, desde as
físicas (fome, sede, frio, calor...) até as de natureza moral, como as
tentações (as ilusões do poder, das facilidades...). Assim, o Cristo ministra a
importantíssima lição de que nós podemos superar todo e qualquer obstáculo ao
crescimento e ao aperfeiçoamento moral, desde que assim o queiramos,
valendo-nos da vontade firme que é a própria força do Espírito a nos conduzir
para o melhor, no “deserto” de nós mesmos.
Em nota de rodapé, a Bíblia de Jerusalém sustenta que esse
episódio constitui uma analogia aos quarenta anos das tentações de Israel
durante a permanência no deserto, em busca da Terra Prometida, quando aquele
povo sofreu tentações semelhantes às de Jesus: a de buscar o seu alimento sem o
auxílio divino; a de tentar Deus para satisfazer-se; e a de renegá-lo para
seguir os deuses falsos “que asseguram o poder deste mundo”. Os organizadores
dessa versão da Bíblia também comentam que a palavra grega “diabo”, que
significa “caluniador", “acusador”, por vezes traduz o termo hebraico “satan”,
ou adversário, representando, pois, a emulação que no homem o leva à
transgressão, responsabilizando-se, portanto, por tudo quanto se oponha à obra
de Deus.
Colocando-nos, necessariamente, no âmago dessa questão,
veremos que é nossa inferioridade espiritual o deserto onde sofremos as
tentações do mal, que vem a ser nossa proverbial ignorância acerca de nós
mesmos, por isso é que não há “vegetação” alguma nesse deserto, por nos faltar
sabedoria capaz de realizar as obras necessárias à nossa mudança de estágio
evolutivo. Com as sucessivas experiências na carne, através das reencarnações
que nos possibilitam passar pelas provas compatíveis com nossas necessidades de
aprimoramento, é que iremos galgando os degraus da elevação espiritual,
capacitando-nos a enfrentar e, assim como o Cristo, vencer cada uma das
tentações que a vida material nos impõe.
Convém repetir, contudo, para reforçar nosso aprendizado
quanto às verdades espirituais, que as tentações não são algo ruim, porquanto
fazem parte de nossas experiências evolutivas; ruim, desastroso mesmo, é
sucumbirmos a elas, uma vez que dessa forma podemos cair no fosso da culpa e do
remorso. Elas são e devem ser vistas, sobretudo, como um desafio que devemos enfrentar
com coragem e vencer, fortalecendo-nos o caráter – o vigor espiritual – para os
embates que virão, até cumprirmos todos os testes que nos prendem a um mundo de
provas e expiação, qual a Terra neste momento evolutivo do planeta. Dessa
maneira é que faz sentido a proposição de Jesus na oração do Pai Nosso, ensinando-nos
a pedir a Deus que “não nos deixeis cair em tentação”...
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