Esta data no Evangelho (9 de março)

Francisco Muniz // 




Temos no Evangelho de Lucas, no versículo 3 do seu capítulo 9, uma preciosa lição sobre o desapego ensinado pelo Cristo Jesus. Esse é o tema, portanto, de nossos comentários neste dia 9 de março, continuando o estudo de algumas passagens do Novo Testamento de acordo com a interpretação da Doutrina Espírita. O texto, mais uma vez retirado da Bíblia de Jerusalém, é encimado pela epígrafe “Missão dos doze”, como segue:

“E disse-lhes: ‘Não leveis para a viagem nem bastão, nem alforge, nem pão, nem dinheiro; tampouco tenhais duas túnicas’.”

O ensino real – verdadeiro, portanto – da doutrina de Jesus não é mesmo de fácil compreensão se não utilizarmos a chave que descerrará o véu que encobre o sentido de certas palavras e expressões, de modo que, hoje, devemos ser muito gratos a Deus, ao Cristo e a Allan Kardec, o apóstolo destes novos tempos por cujos esforços, somados aos das “vozes do céus”, temos o Espiritismo para interpretar tais lições. Por isso é que devemos nos empenhar no cumprimento dos dois mandamentos que o Espírito de Verdade dá aos espíritas: “Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo” (*).

Vejamos que, para enfrentarmos uma viagem no mundo, por mais curta que seja, temos de tomar algumas providências e isso implica prepararmos pelo menos uma bagagem ou nos valermos de alguns recursos com os quais fazermos frente a imprevistos. O Cristo, no entanto, não recomenda nada disso e a razão é que a viagem a que ele se refere não é aquela com que estamos acostumados a realizar no mundo, mas a que nos levará, no dia determinado pelos desígnios de Deus, ao nosso verdadeiro destino, no mundo dos Espíritos. Estamos aqui de passagem, num mundo onde tudo é impermanente e a única certeza é que um dia partiremos para o mesmo lugar de onde procedemos. Por essa razão é que o Cristo ensinou a seus discípulos: “Se lhes perguntarem o que são, digam que são transeuntes” (**).

Para essa viagem, convenhamos, não precisamos absolutamente fazer preparativos materiais, uma vez que somente nos aproveitarão por lá as realizações pessoais no campo das tarefas que nos trouxeram à Terra – aquelas missões determinadas aos doze apóstolos, hoje representados por todos os discípulos sinceros do Cristo, especialmente nós, os espíritas (***). Assim é que a prática da caridade ao próximo e a disseminação da verdade – o ensino responsável da Boa Nova do Reino de Deus – são de fato nosso passaporte para uma boa recepção no Plano Espiritual.

É fato que nada trazemos ao vir ao mundo pela reencarnação – e ganhamos um corpo novinho em folha para cumprirmos os desideratos da evolução conforme uma programação prévia; de igual modo, quando partirmos até o corpo aqui deixaremos, junto com tudo que conquistamos em nome do conforto material. Dessa maneira cuidamos da sobrevivência do corpo físico, ao passo que o Cristo aponta para a necessidade de cuidarmos de nosso bem-estar espiritual, posto ser o Espírito sobrevivente à morte física, necessitando de cuidados específicos. A esse respeito, recordamos importante mensagem de um amigo espiritual, segundo quem devemos cuidar do corpo como se fôssemos viver cem anos, e bem mais da alma, como se fôssemos desencarnar amanhã.

Notas

(*) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VI (“O Cristo consolador”), item 5.

(**) Ver O Evangelho Gnóstico de Tomé, de Hermínio Miranda (ed. Lachâtre).

(***) Ver, além de Lucas 9:1-6, o item 4 do Cap. XX do citado O Evangelho Segundo o Espiritismo.


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