Esta data no Evangelho (8 de março)

Francisco Muniz // 




Neste dia 8 de março, dedicado internacionalmente à exaltação da mulher, nosso estudo de assuntos do Novo Testamento nos apresenta o versículo oitavo do terceiro capítulo do Evangelho de João, que traz por epígrafe “A mulher adúltera”. Trata-se de uma belíssima quão importante lição de Jesus acerca de nosso comportamento frente à condição feminina. Eis o texto (outra vez “quebrado”), recolhido da Bíblia de Jerusalém, que tentaremos interpretar de acordo com as orientações da Doutrina Espírita:

“Os escribas e os fariseus trazem, então, uma mulher surpreendida em adultério e, colocando-a no meio, dizem-lhe: (...)”

Antes de tudo, vejamos o que se esconde nas reticências, para o que precisamos remontar ao primeiro versículo. Informa João que “Jesus foi para o monte das Oliveiras. Antes do nascer do sol, já se achava outra vez no Templo. Todo o povo vinha a ele e, sentando-se, os ensinava”. Trazida a mulher para o meio deles, o que dizem ao Cristo são estas palavras, dos versículos 4 e 5: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres. Tu, pois, que dizes?” A intenção de escribas e fariseus, colocando-se desde cedo em oposição a Jesus, foi sempre a de terem do que acusar o Nazareno, mas este, com suas lições, sabia muito bem safar-se dessas armadilhas, revelando-lhes a hipocrisia vigente enquanto pronunciava seus ensinos voltados para iluminar as consciências ainda presas nas trevas da ignorância.

Na frase do evangelista João, a mulher de quem tratamos aqui foi colocada “no meio”, destacando o sentido mais profundo dessa expressão, permitindo-nos admitir que foi o próprio Criador quem colocou a mulher no meio, isto é, no centro, no âmago da própria condição masculina. Para melhor entendimento da questão, precisamos compreender as duas dimensões dos textos evangélicos – a física, representada pela letra, e a metafísica, que ressalta do “espírito da letra”, como sugere Paulo de Tarso. Assim é que “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Coríntios 3:6). Com efeito, em Sabedoria do Evangelho Pastorino, seu autor, interpretando o ensino do Cristo sobre estar “no meio de nós”, diz-nos que ele se refere à nossa alma, sendo a instância espiritual em cada um de nós que possibilita a vinculação com a dimensão divina.

Desse modo, a mulher, ainda segundo Pastorino, é, em sua configuração feminina, parte do psiquismo das criaturas de Deus, de todos os seres sencientes, integrando-se ao aspecto masculino. Logo, o Espírito não é masculino nem feminino, porquanto apresenta ambas as condições. Na encarnação, com a definição dos sexos, é que uma condição psíquica pode preponderar sobre a outra, embora receba da subjacente a colaboração necessária à convivência, na vida de relação. Devem viver, portanto, o homem e a mulher em regime de estreita cooperação, a bem do progresso social quanto individual, tanto na esfera humana, ou material, como na dimensão espiritual. É dessa forma que se estabelece a igualdade entre os gêneros, uma vez que ambos – o homem e a mulher – são detentores de atribuições importantes para o desenvolvimento da obra da Criação (*).

Então, o que ressalta do texto em análise são as anomalias observadas nas relações homem-mulher quando os seres, ainda na fase inicial do aprendizado, deixam-se levar pelos conflitos resultantes das tentativas de reconhecimento do que de fato são. Quando, enfim, estabelecermos o divino casamento com o Cristo, a aceitação tácita e plena do que somos em essência se dará e assim o masculino e o feminino em nosso psiquismo estarão definitivamente integrados em Deus. Até lá, contudo, urge assimilarmos e vivermos a lição que Jesus nos legou, a fim de superarmos os preconceitos e reeducarmo-nos para a Vida.

(*) Ver O Livro dos Espíritos, questão 817 e seguintes. 


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