Esta data no Evangelho (4 de março)

Francisco Muniz // 




Nesta data, dia 4 de março, nosso estudo de temas do Novo Testamento nos leva ao quarto versículo do capítulo 3 da Epístola de Paulo aos Efésios, que vem sob a epígrafe “Paulo, ministro do mistério de Cristo”. Na Bíblia de Jerusalém, de onde copiamos o texto, o versículo (“quebrado”) é narrado assim:

“(...) lendo-me, podeis compreender a percepção que eu tenho do mistério de Cristo.”

Como fazemos habitualmente, nesses casos, revelemos o que se esconde nas reticências, indo ao(s) versículo(s) anterior(es): “Por esta razão [o apóstolo se refere à nova condição de convertidos dos cristãos de Éfeso (*)], eu, Paulo, o prisioneiro de Cristo por amor de vós, os gentios... Certamente sabeis da dispensação da graça de Deus que me foi dada a vosso respeito. Por uma revelação me foi dado a conhecer o mistério, como atrás vos expus sumariamente (...)” Essa exposição, Paulo a faz desde o primeiro capítulo de sua Carta, revelando “o plano divino da salvação” através da transformação advinda das lições do Cristo: “Vós estáveis mortos em vossos delitos e pecados (...) Mas Deus, que é rico em misericórdia (...) nos vivificou juntamente com Cristo – pela graça fostes salvos!”

Todos os estudiosos do Evangelho e do Cristianismo são unânimes em afirmar que Paulo de Tarso, o ex-doutor da Lei Saulo convertido à doutrina de Jesus às portas da cidade de Damasco, foi o maior propagador dos ensinamentos cristãos, justamente porque ele, compreendendo o alcance universal das propostas do Messias, não se limitou às fronteiras de Israel em suas pregações, indo plantar a Verdade entre os estrangeiros. Devemos a ele, portanto, a disseminação das lições reveladoras do “mistério de Cristo” que, levadas a todas as nações, fizeram dos gentios também herdeiros do Deus único, em cujo nome Jesus veio reunir num único rebanho as ovelhas dispersas pela Terra. Dessa maneira, lendo suas cartas e, mais ainda, os relatos de Lucas conhecidos como Atos dos Apóstolos, podemos ter uma compreensão mais dilatada do conhecimento paulino acerca do Cristo.

Essa compreensão de nossa parte, agora reforçada substantivamente pelo esclarecimento proporcionado pela Doutrina Espírita, deve nos fazer discernir quanto aos equívocos cometidos pelo Apóstolo dos Gentios na exposição de seus conceitos, o que não minimiza seus esforços na propaganda dos ensinamentos de Jesus. Um exemplo desses equívocos é a tese da justificação pela fé: hoje, pelo Espiritismo, sabemos que tal justificação, isto é, o ato de nos fazermos justos aos olhos de Deus, adequados a suas sábias leis, se dá pela prática abnegada da caridade (“Fora da caridade não há salvação”, diz o lema da Doutrina dos Espíritos), concordando com o pensamento do apóstolo Tiago, que em sua Carta afirma que “a fé sem obras é morta” (2:26).

Paulo é um dos muitos emissários do Cristo que vieram colaborar com o codificador do Espiritismo trazendo mensagens esclarecedoras principalmente no tocante à caridade que Allan Kardec aproveitou em O Evangelho Segundo o Espiritismo (**). Aí, o ex-doutor da Lei nos conclama ao aperfeiçoamento moral através das ações caritativas, e a agradecermos a Deus, que nos permitiu “gozar da luz do Espiritismo; não porque só aqueles que a possuem podem ser salvos, mas porque ajudando-vos a melhor compreender os ensinamentos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos (...) porque todos aqueles que praticam a caridade são os discípulos de Jesus, qualquer seja o culto a que pertençam”.

Notas

(*) Éfeso é uma cidade antiga na região do Egeu, no centro da Turquia, perto da Selçuk moderna. Suas ruínas escavadas refletem séculos de história, da Grécia clássica ao Império Romano (quando a cidade era o principal centro comercial do Mediterrâneo), até a difusão do cristianismo. Ao sudoeste de Selçuk está localizada a Casa da Virgem Maria, um local de peregrinação que muitos acreditam seja onde Maria passou os últimos anos da vida dela (Google).

(*) Ver o Cap. XV, itens 6 a 10.


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