Francisco Muniz -
Ao contrário de outros meses, desta vez não ficamos sem
assunto no último dia, precisando recorrer aos Salmos, pois o Evangelho de Marcos
vem em nosso socorro, oferecendo o tema dos comentários que faremos hoje, dia
31 de março, sob a luz diáfana da Doutrina dos Espíritos. Assim, vamos buscar
no capítulo 3 daquele livro o versículo 31 para continuar o estudo de algumas
passagens do Novo Testamento. Eis o texto, retirado da Bíblia de Jerusalém
e epigrafado como “Os verdadeiros parentes de Jesus”:
“Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando do lado
de fora, mandaram chamá-lo.”
De acordo com um ditado italiano, “parente é serpente”, significando
que nas melhores famílias (segundo os padrões do mundo) há aqueles que fogem aos
paradigmas do bom comportamento, da boa educação, das normas de civilidade que
gostaríamos vigesse em todo e qualquer grupamento humano. Talvez seja assim
para comprovar, para não nos deixar esquecer que estamos, ainda que temporariamente,
num mundo de provas e expiação onde a felicidade é utópica e a perfeição absolutamente
não existe. No capítulo XXIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo,
intitulado “Moral estranha”, Allan Kardec desenvolve interessantes
considerações acerca dessa passagem referida por Marcos. Afirma o Codificador,
por exemplo, que os irmãos de Jesus, tanto quanto sua mãe, não compreendiam a
missão do Mestre e até pensavam – os que não acreditavam que Jesus fosse o
Messias anunciado nas Escrituras – que ele havia enlouquecido, como informa o
evangelista.
É significativo, portanto, que eles se mantivessem “do lado
de fora”, preferindo mandar alguém chamar o irmão “estranho” que andava com
gente estranha fazendo coisas estranhas, em vez de lhe fazerem companhia.
Evidentemente, Jesus os amava, mas não estava ali para lhes fazer a vontade,
submetendo-se às românticas e tradicionalistas noções de família – o que ele
fez até os 30 anos. Não! Ele veio para provocar uma revolução radical em nosso
modo de pensar, sentir e agir, a fim de que saibamos manifestar verdadeira e
mais eficazmente os sentimentos que nos ligam uns aos outros. Por essa razão é
que o Rabi aproveita o momento para ministrar a mais enfática lição de
fraternidade ao revelar a existência de uma família cujos laços transcendem o
sangue e o nome: a família universal, que reúne todos aqueles que fazem a
vontade de Deus. A paternidade divina nos faz a todos irmãos, razão maior para
manifestarmos respeito à hierarquia, obedecendo ao quarto mandamento da Lei, que
nos recomenda honrar pai e mãe e, por extensão, todos aqueles participantes do
núcleo familiar.
Essa passagem aponta-nos, ainda, para a necessidade de
estreitarmos nosso compromisso com o Cristo Jesus, em quem reconhecemos o
caminho da verdade e da vida, de forma a melhor compreendermos as
peculiaridades da vida de relação, principalmente no ambiente familiar. Assim trabalharemos
de maneira mais consciente e consistente na formação e fortalecimento dos laços
afetivos, conforme lemos em O Livro dos Espíritos (*), na abordagem
quanto à importância da família para o desenvolvimento dos valores morais e
espirituais. Porque também aí – e principalmente! – é necessário observarmos e
exercitarmos as lições de desapego, uma vez que procedendo contrariamente à
vontade divina causamos malefícios uns aos outros. O que Deus quer é que nos
ajudemos mutuamente, colaborando uns para o progresso dos outros, tornando
sublime a experiência da convivência familiar, em vez de perpetuarmos ressentimentos
alimentando raiva, ódio e rancor para com aqueles que partilham conosco suas
alegrias e tristezas.
(*) Questões 773 e seguintes (“Lei de Sociedade – Laços de família”).
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