Francisco Muniz //
Na conclusão de um dos capítulos do livro A noviça e o
faraó, no qual o escritor Hermínio Miranda comenta a biografia da arqueóloga
inglesa Omm Sety (*), ele declara que “(...) a sábia e competente doutrina da
reencarnação, que tanta falta faz à ciência, à filosofia, à religião, vem sendo
tida como questão vexatória, a ser evitada por pessoas tidas por inteligentes,
sensatas, objetivas e racionais”. Esse é o tema de nossos comentários deste dia
3 de março, quando abordaremos o versículo 3 do terceiro capítulo do Evangelho
de João. Eis o texto, lido na Bíblia de Jerusalém:
“Jesus lhe respondeu: ‘Em verdade, em verdade, te digo:
quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus’.”
O que vem do “alto” para nascer na Terra é o Espírito e esse
nascimento corresponde à última etapa do processo de reencarnação, que tem o
propósito de habilitar o ser imortal para o desenvolvimento das condições
facilitadoras de sua adequação aos propósitos do Reino de Deus. As palavras de
Jesus anotadas por seu discípulo amado foram dirigidas ao doutor da lei
Nicodemos, que havia procurado o Mestre na calada da noite para obter semelhante
ensinamento. O Cristo enfatiza a verdade que proclama repetindo, conforme seu
estilo, posto ter vindo para dela dar testemunho, deixando claro que a
reencarnação é, como instrumento da lei de progresso, ou de evolução espiritual,
a expressão da justiça de Deus em favor de seus filhos misérrimos.
Isso quer dizer que os Espíritos que avançaram na senda do
progresso através da aquisição do conhecimento precisam continuar reencarnando
para também se desenvolverem no campo dos sentimentos, pois para os voos aos páramos
celestiais são necessárias as asas da sabedoria e do amor, como afirma o
Espírito Neio Lúcio em Jesus no Lar (**). No entendimento poético do
Espírito Lázaro (***), a reencarnação é a segunda letra do alfabeto divino que,
“triunfando sobre a morte, revela ao homem maravilhado seu patrimônio intelectual;
não é mais aos suplícios que ela conduz, mas à conquista do seu ser, elevado e
transfigurado”. Com suas palavras, Lázaro tanto resgata a importância desse
conhecimento, por séculos relegado ao ostracismo, quanto delineia, em nome do
Cristo, a missão sagrada do Espiritismo no âmbito da Humanidade terrena.
Com efeito, muitos pensam que a reencarnação é “invenção”
espírita, ou melhor, de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, mas aí
temos, no Evangelho, o próprio Messias explicando a natureza e a finalidade
desse processo de purificação dos seres sencientes. Com a reencarnação, muitos,
senão todos, problemas com os quais a Humanidade se debate são solucionados, ao
passo que, sem ela, permanecemos sem respostas para as causas das graves
desigualdades sociais no seio de todos os povos. Não obstante a resistência
científica e acadêmica, a reencarnação, sendo mais que uma teoria ou tese, tem
merecido estudos de psicólogos e outros profissionais interessados na questão, a
exemplo do psiquiatra Ian Stevenson, pesquisador canadense-americano que
publicou o livro Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação (1966), e do
engenheiro brasileiro Hernani Guimarães Andrade, autor de Reencarnação no
Brasil (ed. O Clarim, 1988).
Notas
(*) The Search for Omm Sety, do jornalista
norte-americano Jonathan Cott (Warner Books, 1987, New York).
(**) Psicografia de Francisco Cândido Xavier (ed. FEB).
(***) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XI,
item 8 (“A Lei de Amor”).
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