Francisco Muniz -
Vem do Evangelho de João, mais uma vez, o assunto que
devemos abordar neste dia 28 de março, prosseguindo nosso estudo de algumas
passagens do Novo Testamento. Trata-se do versículo 28 do terceiro capítulo, epigrafado
como o “Ministério de Jesus na Judeia. Último testemunho de João” (o
evangelista fala do Batista). Eis o texto, colhido da Bíblia de Jerusalém,
que comentaremos de acordo com nosso aprendizado da Doutrina Espírita:
“Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: ‘Não sou eu
o Cristo, mas sou enviado adiante dele’.”
Em seu livro Boa Nova (*), o Espírito Humberto de
Campos narra, numa bela crônica, o encontro de dois garotos, dois primos, nas
cercanias montanhosas da cidadezinha de Nazaré, na Galileia, enquanto suas
respectivas mães conversavam em casa. Eram, como é fácil adivinhar, os talvez
adolescentes Jesus e João, filhos de Maria e Isabel, também primas entre si.
Segundo o autor espiritual, os dois garotos, vistos conversando e apontando
para as distâncias na direção de Jerusalém, deviam estar delineando os planos
relativos às tarefas que desempenhariam em breve futuro. E em seu tocante
relato, Humberto de Campos, um dos grandes cronistas brasileiros do início do
século XX, informa que, para o cumprimento daquele planejamento, João partiria
primeiro...
Ora, naqueles tempos – seis séculos após Elias, o profeta reencarnado
agora como este mesmo João de que falamos – pairava sobre a alma dos israelitas
a doce expectativa da vinda próxima do Messias, acreditando-se ter chegado a
época da realização das antigas profecias a esse respeito, especialmente as de
Isaías. Assim, quando João iniciara sua tarefa, vindo do deserto em trajes
rudimentares feitos de peles de animais para realizar a pregação às margens do
rio Jordão, nas imediações de Betânia, muitos o confundiram com o Emissário
Divino que deveria libertar Israel do jugo em que vivia. E foi ele o primeiro a
anunciar a Boa Nova, ao proclamar, às multidões que o procuravam, esta frase de
profundo impacto: “Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo!” (Mateus
3:2)
A todos João dizia ser o arauto e não o Messias, aquele que
viria após ele e de cujas sandálias não era digno de desatar as tiras, sempre
citando as profecias de Isaías e reafirmando suas palavras aos fariseus do
Templo mesmo depois que Jesus, que ele batizara ali mesmo, nas águas rasas do
Jordão, impressionava crentes e incrédulos com seus feitos e lições. Ou seja,
João, o batista, apregoava a verdade, preparando mentes e corações para a
chegada do Cristo, que veio renovar o entendimento de todos acerca das leis de
Deus, do mesmo modo como o Espiritismo vem relembrar e complementar o ensino do
Mestre quanto ao Reino dos Céus e os passos que precisamos dar para ter acesso
a ele, construindo-o no altar do próprio coração.
Dessa maneira, podemos entender que, sendo sucessivas as revelações,
Allan Kardec também realizou um papel semelhante ao de João, sendo ele
igualmente um desbravador dos caminhos, ou veredas, que o Cristo – agora apresentando-se
como o Espírito de Verdade – trilharia no seio da Humanidade, facilitando nossa
compreensão do que seja efetivamente o Reino apregoado no Evangelho. É tarefa da
Doutrina Espírita ajudar-nos a combater o veneno do materialismo em nós mesmos,
através do despertamento próprio para nossa condição de Espíritos imortais, o
que muda exponencialmente nossa concepção a respeito da vida, conforme o
Codificador salienta nas páginas de O Evangelho Segundo o Espiritismo (**).
Notas
(*) Psicografia de Chico Xavier; ed. FEB.
(**) Ver os itens 14 a 17 do capítulo V (“O suicídio e a
loucura”).
Comentários
Postar um comentário
Abra sua alma!