Francisco Muniz -
Neste dia 27 de março nosso estudo de algumas passagens do
Novo Testamento nos leva a abordar o terceiro versículo do capítulo 27 do
Evangelho de Mateus, sob as luzes da Doutrina dos Espíritos, o mapa que nos
ajuda a trilhar o caminho para o Reino dos Céus, do qual o Evangelho é a
bússola. O texto, lido, mais uma vez, na Bíblia de Jerusalém, que o
coloca sob a epígrafe “Morte de Judas”, é o seguinte:
“Então Judas, que o entregara, vendo que Jesus fora
condenado, sentiu remorsos e veio devolver aos chefes dos sacerdotes e aos
anciãos as trinta moedas de prata (...)”
Essa passagem é das mais ricas, em simbolismo, do Novo
Testamento, oferecendo lições em abundância para nosso esclarecimento quanto ao
momento evolutivo em que nos encontramos, marcando nosso posicionamento perante
o Cristo. Não por acaso – acreditamos –, estamos vivenciando presentemente o
período da Quaresma, quando a cristandade, estimulada pelas manifestações do
Catolicismo, volta suas atenções para o sacrifício de Jesus, recordando, mesmo
inconscientemente, os episódios que deram vez à prisão, ao julgamento e à
condenação do Messias à morte na cruz. E a participação de Judas nesse processo
teve alta relevância, sendo, porém, incompreendida até hoje.
O ponto que pretendemos ressaltar neste exame do texto de
Mateus é o remorso (o evangelista utiliza o termo no plural, tornando a agonia
de seu antigo companheiro no colégio apostolar do Cristo ainda mais aguda) que
acometeu o apóstolo dito “traidor” após ter entregado Jesus à sanha dos
sacerdotes fariseus, que tudo fizeram para atrapalhar a missão redentora do Nazareno.
Segundo os dicionários, “remorso é um sentimento experimentado por aqueles que
acreditam que cometeram uma ação que infringe um código moral que obedecem. O
remorso é mais intenso que a tristeza e implica um estado de longo prazo. Ao mesmo
tempo sugere um grau de resignação, o que atribui ao remorso um certo grau de
dignidade”.
Podemos dizer, relembrando certo relato do Espírito Amélia
Rodrigues (*) em seu livro Dias Venturosos (ed. LEAL), psicografado por
Divaldo Franco, que o remorso é a face tormentosa, hiperbólica mesmo, do
arrependimento. Sendo este o reconhecimento do erro cometido, levando o ser
equivocado a apelar por perdão e submeter-se à posterior quanto necessária
reparação do malfeito, o remorso opera contrariamente a esse processo, aprisionando
a consciência em terrível sentimento de culpa. Com Judas se deu, com o remorso,
um desses fenômenos de fuga psicológica motivado pelo fracasso das expectativas
pessoais alimentadas pelas ações de terceiros, conforme depreendemos da
narrativa de Humberto de Campos, Espírito, em Boa Nova (**),
especificamente no capítulo intitulado “A ilusão do discípulo”.
Judas tinha planos próprios quanto a Jesus e seu trabalho
revolucionário no coração e na mente dos homens, para o que tencionava obter o apoio
dos poderosos de plantão; mas o apóstolo iludido dimensionou muito mal tanto o papel
que o Messias representava quanto sua própria participação nos planos do
Mestre, a quem amava sinceramente, sendo esta a razão maior do remorso
experimentado. Amargurado a tal extremo, ele dificilmente escaparia das zonas “infernais”
da própria consciência torturada pela culpa se o Cristo não tivesse “descido
aos infernos” para resgatá-lo, conforme reza o Credo católico. Daí em diante,
Judas – narram as crônicas espirituais – reencarnaria sucessivamente para
redimir-se perante o Senhor, o que evidenciou-se em definitivo quando ele
vestiu a roupagem física da jovem Joana D’Arc (***).
Notas
(*) Educadora baiana que, desencarnada, foi convidada pela
Benfeitora Joanna de Ângelis a colaborar nas hostes do Espiritismo ditando ao
médium a poesia envolta nos atos da vida de Jesus, o que fez com grande talento
e sensibilidade.
(**) Psicografia de Francisco Cândido Xavier; ed. FEB.
(***) Ver A história de Joana d’Arc, ditada por ela mesma
(ed. CELD, Rio de Janeiro, 2009), psicografia de Ermance Dufaux, que fora uma
das médiuns auxiliares de Allan Kardec.
Maravilha
ResponderExcluirSeu comentário é muito importante.
ExcluirCom o remorso, um desses fenômenos de fuga psicológica motivado pelo fracasso das expectativas pessoais alimentadas pelas ações de terceiros.
ResponderExcluirCopiei e colei essa parte do texto porque durante a leitura passou um leve pensamento de um fato que não sei julgar que nos dias de hoje pode ter acontecido semelhante.
Fiquemos em paz, Cláudia.
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