Esta data no Evangelho (26 de março)

Francisco Muniz - 




A segunda parte da Epístola de Paulo aos Romanos, integrando o terceiro capítulo, trata da “justiça de Deus e a fé” e seu versículo 26, que hoje, dia 26 de março, abordaremos em nosso estudo de temas do Novo Testamento, está sob a epígrafe “Revelação da justiça de Deus” e vem com a seguinte redação:

“(...) no tempo da paciência de Deus; ele queria manifestar a sua justiça no tempo presente para mostrar-se justo e para justificar aquele que é pela fé em Jesus.”

É de Deus, o Criador, a Inteligência Suprema, o ser soberanamente justo e bom de que nos informam os Espíritos autores da Terceira Revelação configurada no Espiritismo, que nos fala Paulo de Tarso, desde as reticências de seu texto lido na Bíblia de Jerusalém. Diz o Apóstolo dos Gentios que Deus, o Pai apresentado por Jesus à Humanidade carente de conforto e proteção, opera sua justiça em cada um de nós pela fé no Cristo, “em favor de todos os que creem” (Rom 3:21-25) e isto “independentemente da Lei”, ou seja, das ordenações mosaicas tão caras ao Judaísmo. O objetivo, conforme o texto destaca, é “justificar aquele que é pela fé em Jesus” no “tempo presente” – na atualidade de todos os tempos, portanto.

Concordamos com Paulo quanto à atualidade da fé no Cristo, em suas lições e exemplos, porquanto é ele o guia e o modelo da Humanidade, segundo informaram os Espíritos Superiores a Allan Kardec (*), aquele que nos aponta o caminho mais seguro para nossa redenção espiritual. Mas novamente vemo-nos na contingência de pôr reparo nas palavras de Paulo, ajuizando que somente a fé, sempre importante, não resolve todos os problemas da alma em seu processo de evolução. A redenção, como bem podemos sentir, refletindo o ensinamento espírita, não é algo automático, exigindo iniciativa e esforço cada vez mais consciente por parte de quem se decida trilhar tão prazeroso quanto doloroso caminho (o oxímoro [**] explica muito bem o que significa, para a alma, a expressão “via crucis”).

A fé, hoje sabemos, graças às luzes da Doutrina Espírita, se concretiza através das obras do cristão, manifestando-se nas ações abnegadas da caridade, da solidariedade e da fraternidade, “no tempo da paciência de Deus”, ou seja, sempre, constante e incessantemente. Tem que ser sólida, não se abalando jamais pelas ondas muitas vezes violentas dos acontecimentos da existência física, o que só se consegue pela via da razão, sabendo-se por que se sofre, remontando às causas da dor, e o que é preciso fazer para superar o sofrimento, antevendo o instante glorioso que se experimentará na vida futura em decorrência dos atos responsáveis do presente. O cristão, portanto, se justifica, isto é, torna-se justo, positivamente adequado à lei de justiça, quando cumpre a vontade de Deus e as ordenações do Cristo, principalmente quanto ao exercício do perdão às ofensas.

E nesse sentido Paulo de Tarso tem muito a nos ensinar, especificamente com a mensagem que Kardec aproveitou nas páginas de O Evangelho Segundo o Espiritismo (***), ao tratar de tão relevante tema: “Mas há duas maneiras bem diferentes de perdoar: há o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitas pessoas dizem de seus adversários: “Eu lhe perdoo”, enquanto que, interiormente, experimentam um secreto prazer do mal que lhe acontece, dizendo para si mesmas que ele não tem senão o que merece. Quantas dizem: “Eu perdoo” e que acrescentam: “mas não me reconciliarei nunca; não quero vê-lo pelo resto da vida.” Está aí o perdão do Evangelho? Não; o verdadeiro perdão, o perdão cristão, é aquele que lança um véu sobre o passado; é o único que vos será contado, porque Deus não se contenta com a aparência (...)”

Notas

(*) Questão 625 de O Livro dos Espíritos.

(**) Oxímoro é uma figura de linguagem em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão (p.ex.: obscura claridade, música silenciosa); paradoxismo.

(***) Ver o Cap. X, item 15.

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