Francisco Muniz -
Vem do capítulo 25 de Atos dos Apóstolos o tema de nossos
comentários neste dia 25 de março, em prosseguimento do estudo de algumas
passagens do Novo Testamento. Desse livro escrito por Lucas, enfocando
principalmente as peripécias de Paulo de Tarso, o Apóstolo dos Gentios, destacamos
o versículo 3, que traz, na Bíblia de Jerusalém, esta redação, sob a epígrafe
“Paulo apela para César”:
“(...) pedindo como especial favor, mas em detrimento de
Paulo, que o transferisse para Jerusalém: é que preparavam uma emboscada para
matarem-no durante o trajeto.”
As reticências entre parênteses pedem que contemos parte
dessa história: Paulo estava preso em Cesareia e esse “favor especial” foi pedido,
sem o conhecimento do apóstolo, pelos chefes dos sacerdotes judeus ao novo
governador da Judeia, Pórcio Festo, que substituía o venal Félix (*). Como é
sabido, Paulo tinha ascendência romana e contava o quanto possível com a complacência
das autoridades do Império, de modo que os interesses nefastos dos integrantes
do Sinédrio não prevaleceram contra ele. Não seria dessa vez, portanto, que
Paulo entregaria a cabeça ao carrasco, o que só aconteceria bem mais tarde, em
Roma. Em termos escriturísticos, ele não era um profeta, razão pela qual sua
morte não se deu na capital dos judeus, porquanto Jesus havia dito,
referindo-se a si mesmo, não ficar bem que um profeta morresse fora de
Jerusalém (Lucas 13:31-35).
Essa passagem que ora analisamos tem o condão de nos deixar
de sobreaviso quanto às ameaças que pairem sobre nossa segurança física ou
espiritual. A esse respeito, convém recordar o apelo do Cristo no sentido de
não temermos aqueles que podem matar o corpo, em razão da imortalidade da alma,
mas devemos estar em guarda quanto àqueles que podem “matar a alma”. Pode
parecer estranho, mas a morte da alma é possível e o aviso do Mestre tem razão
de ser, porque se trata, aí, dos ensinos e das práticas contrárias ao bem, que podem
corromper nossa essência espiritual. Por isso pediu ele que nos resguardássemos
do “fermento dos fariseus”, que agem como lobos famintos ante os cordeirinhos
desatentos. Que não temêssemos, porém, suas armadilhas, porquanto somente os
lobos caem nas armadilhas de lobos, enquanto aqueles que seguem o caminho reto
que leva à porta estreita contam sempre com toda a proteção celestial.
Mas, ah!, ainda há aqueles de nós que se colocam temerosos
ante toda e qualquer ameaça à sua segurança pessoal, ante a possibilidade de perderem,
talvez precocemente, a oportunidade de se manterem ligados ao corpo físico, à
realidade material, sempre valiosa mas transitória. Uma vez eu disse, a uma
pessoa de minhas relações que havia confessado esse medo, que o máximo que nos
pode acontecer, nesse aspecto, é experimentarmos a morte do corpo e que ela é,
na verdade, libertação para o Espírito que tem sua consciência tranquila. Desde
então, disse-me essa amiga ter perdido seu medo de topar com assaltantes por aí
afora, deixando evidente nossa necessidade de não só compreendermos as lições
do Evangelho, quando estudadas com atenção, como vivenciá-las o mais
sinceramente possível, libertando-nos assim de antigos condicionamentos mentais.
(*) Félix gostava, diz Lucas (Atos 24:24-26), de ouvir as
perorações de seu prisioneiro “sobre a fé em Cristo Jesus”, mas se amedrontou
quando Paulo se pôs “a discorrer sobre a justiça, a continência e o julgamento
futuro”, interrompendo-o: “Por agora, retira-te, Quando tiver mais tempo,
mandarei chamar-te”. Segundo o evangelista, o governador romano “esperava, além
disso, que Paulo lhe desse dinheiro; por isso mandava chamá-lo frequentemente e
conversava com ele”.
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Abra sua alma!