Francisco Muniz -
É da Primeira Epístola de Pedro, do versículo 22 do terceiro capítulo, que tiramos o assunto de nossos comentários neste dia 22 de março, prosseguindo o estudo de temas do Novo Testamento sob a inspiração da Doutrina Espírita. A epígrafe desse texto destacado é “A ressurreição e a descida à mansão dos mortos” (*). Ei-lo:“(...) que, tendo subido ao céu, está à direita de Deus,
estando-lhe sujeitos os anjos, as Dominações e as Potestades.”
Evidentemente, Pedro fala do Cristo nessa Carta católica,
isto é, enviada à cristandade, à universalidade dos cristãos no mundo. Devido à
“quebra” do texto indicada pelas reticências entre parênteses, vejamos o que lá
se esconde, desde o versículo 18: “Com efeito, também Cristo morreu uma vez
pelos pecados, o justo pelos injustos, a fim de vos conduzir a Deus. Morto na
carne, foi vivificado no espírito, no qual foi também pregar aos espíritos em
prisão, a saber, aos que foram incrédulos outrora, nos dias de Noé, quando
Deus, em sua longanimidade, contemporizava com eles, enquanto Noé construía a
arca, na qual poucas pessoas, isto é, oito, foram salvas por meio da água. Aquilo
que lhe corresponde é o batismo que agora vos salva, não aquele que consiste em
uma remoção da imundície do corpo, mas em um compromisso solene de uma boa
consciência para com Deus pela ressurreição de Jesus Cristo (...)”
Imagino que Pedro não deve ter conhecido a narrativa de
João, o evangelista, seu companheiro no Colégio Apostolar de Jesus e autor do
Apocalipse, livro que revela a posição do Cristo Cósmico exatamente como Pedro
o descreve em sua carta. Jesus, conforme nos revelam os Maiores da Espiritualidade,
é o governador deste planeta, o qual construiu com o auxílio de outros
Espíritos de elevada hierarquia, segundo as ordens de Deus, ou seja, de acordo
com as soberanas leis. A expressão “sentar à direita de Deus” já é nossa
conhecida desde o episódio protagonizado por Salomé, mãe de João e Tiago, que
pedira ao Messias privilégios para seus filhos no Reino dos Céus. E, na
condição de Pastor, o Cristo é mesmo Senhor dos anjos e demais classes dos
Espíritos elevados, razão pela qual se diz ser ele o Filho primogênito do Pai
Altíssimo.
Na Codificação espírita (**), Jesus nos é apresentado como “o
tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem para lhe servir de guia e
modelo” (questão 625 de O Livro dos Espíritos), sendo, portanto, nosso
parâmetro nos esforços que devemos empreender para melhorarmos nossa condição
espiritual, uma vez compreendida nossa perfectibilidade. O Mestre, contudo, nos
apontou a perfeição divina como nosso espelho, mas esta é inalcançável, ao
passo que podemos imitar a grandeza do Cristo, desde que saibamos seguir-lhe os
exemplos praticando suas lições. Sabemos que, embora tal não seja de fácil
realização, porquanto trilhamos muitas vezes por atalhos que só nos desviaram
do caminho, um dia seremos “um com o Pai”, conforme nos pediu o Nazareno; antes
disso, porém, precisamos nos unificar no Cristo até o ponto experimentado por
Paulo de Tarso, o Apóstolo dos Gentios, que declarou: “Não sou eu que vivo, mas
o Cristo é que vive em mim!”
Notas
(*) Em nota de rodapé, a Bíblia de Jerusalém informa
que todo o trecho do texto epigrafado “contém os elementos de uma antiga
profissão de fé: a morte de Cristo, a descida à mansão dos mortos, a
ressurreição, o sentar-se à direita de Deus, o julgamento dos vivos e dos
mortos”.
(**) Trata-se do conjunto da obra compilada pelo missionário
Allan Kardec a partir das orientações dos Espíritos Superiores, sob o comando
do Espírito de Verdade; inclui o Pentateuco kardequiano – O Livro dos
Espíritos (1857); O Livro dos Médiuns (1861); O Evangelho Segundo
o Espiritismo (1864); O Céu e o Inferno (1865); e A Gênese (1868)
–, os opúsculos e os volumes da Revista Espírita até 1869.
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