Francisco Muniz -
Voltamos ao Evangelho de João para dar continuidade ao
estudo de algumas passagens do Novo Testamento e desta feita nossos comentários
versarão sobre o versículo 21 do terceiro capítulo, correspondentes a esta data
de 21 de março. Como tem sido desde há algum tempo, utilizamos a Bíblia de
Jerusalém para copiar o texto (abaixo) cuja abordagem é feita segundo as
luzes da Doutrina Espírita.
“Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se
manifeste que suas obras são feitas em Deus.”
Vejamos que num ambiente escuro buscamos a claridade; na
madrugada, ansiamos pelo nascer do dia; num texto ininteligível procuramos
clareza; na noite tormentosa do mar o comandante do navio guia seu barco pela
luminosidade do farol... Na luz, portanto, encontramos a verdade, caso contrário,
a embarcação soçobra, as palavras perdem a compreensibilidade, a madrugada se
prolonga e o lugar que habitamos segue em trevas. A verdade, assim
considerando, é tudo que permita o bom entendimento pela simples visualização
do bem e do belo, conforme nos explica o livro do Gênesis, no Velho Testamento
(Gen. 1:3-4): “Deus disse: ‘Que exista a luz!’ E a luz começou a existir. Deus
viu que a luz era boa. E Deus separou a luz das trevas (...)”
A verdade, pois, como expressão da luz de Deus, que se
expressa em beleza, justiça e bondade, deve ser praticada por todo aquele que
se comprometeu com o Cristo através da própria consciência. E esse “ir para a
luz” é automático, bastando a eleição da verdade como base das atitudes da
criatura comprometida, que trabalhará sempre em Deus, isto é, com entusiasmo
(*), manifestando plena alegria no serviço de amar a si mesmo e ao próximo,
amando a Deus sobre todas as coisas. Foi por tal razão – cremos – que o Cristo proclamou
deixássemos brilhar nossa luz diante dos homens, para que vejam nossas boas
obras – as obras da justiça e da caridade, manifestadas em piedade para com os
sofredores e suave admoestação para com os indiferentes e desatentos.
As palavras de João estão colocadas sob a epígrafe “O
encontro com Nicodemos” e fazem parte da explicação de Jesus ao questionamento
desse doutor da lei acerca da reencarnação, o nascer de novo para ver o Reino
de Deus. O Messias dirime a dúvida de Nicodemos e aproveita a importância do
momento para falar da incredulidade do mundo ante “o Nome do Filho único de
Deus” (João 3:18), assumindo sua condição de “divisor de águas”: “Este é o
julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz”
(João 3:19). Logicamente, quem busca a luz da verdade sempre encontrará o
Cristo e terá oportunidade, recursos e condições para a realização das boas
obras, esteja encarnado como desencarnado, uma vez que o ser consciente de suas
responsabilidades jamais cessa de trabalhar.
No entanto, ninguém espere privilégios da parte de Deus apenas
por estar fazendo o que lhe compete. Deus não premia a quem quer que seja,
assim como também não castiga aqueles que julgamos estarem no caminho errado. É
do Criador todo o julgamento e de sua Lei vem a consequência de cada ato,
consoante o que Jesus ensinou: “A cada um será dado de acordo com suas obras” (Mateus
16:27). Para tanto, há que se fazer o bem incessantemente, amando
incondicionalmente, de modo que nenhum profitente de qualquer corrente
religiosa está impedido de conhecer o Evangelho e, pelo menos, meditar nas
palavras do Cristo, que não veio instituir nenhuma religião, apenas apresentar
o mais perfeito código de ética baseado nestes sublimes princípios morais: “Ama
a teu próximo como a ti mesmo; meus discípulos serão conhecidos por muito se
amarem; o que você quer para si mesmo faça primeiramente ao outro”.
(*) A palavra entusiasmo tem sua raiz etimológica na expressão
grega “en theos” = em Deus.
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