Francisco Muniz -
A transfiguração é novamente tema dos comentários que devemos
fazer hoje, dia 18 de março, a partir do texto do versículo 18 do terceiro
capítulo da Segunda Epístola de Paulo aos Coríntios, colocado sob a epígrafe “De
Trôade à Macedônia. Digressão: o ministério apostólico”. Sob a inspiração da Doutrina
Espírita, este trabalho dá prosseguimento ao estudo de algumas passagens do
Novo Testamento. Eis o texto, retirado das páginas da Bíblia de Jerusalém:
“E nós todos que, com a face descoberta, refletimos como
num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados nessa mesma imagem, cada
vez mais resplandecente, pela ação do Senhor, que é Espírito.”
Quando Jesus transfigurou-se no alto do Monte Tabor, aos olhos
espantados de Pedro, Tiago e João, conforme já tivemos ocasião de comentar, ele
revelou sua natureza gloriosa de Espírito puro. O que Paulo de Tarso observa é
que, em essência, todos nós somos, espiritualmente, criaturas luminosas, isto é,
filhas da grande luz que é Deus, embora essa condição íntima gradue do opaco ao
translúcido. Há mais de dois mil anos, ao descer dos altiplanos celestiais
para, compadecido de nossa ignorância, ensinar-nos o caminho da verdade e da
vida, o Messias pediu, no Sermão do Monte, que deixássemos brilhar nossa luz, o
que só é possível mediante a vitória sobre as trevas que nos escravizam à inferioridade
moral.
A face descoberta, portanto, significa a disposição, a
coragem de encararmos a verdade em nós mesmos, no exercício imprescindível e
impostergável do autoconhecimento que nos leva à reforma íntima recomendada
pelo Espiritismo. Tal prêmio ainda não é de fácil aquisição, porquanto, exigindo
os esforços de autodomínio, a tarefa da correção de nós mesmos, vencendo os
vícios presentes em nossa personalidade e a tendência aos erros que nos
acompanha de encarnação em encarnação, parece digna de um Hércules. Na mitologia
grega, Hércules, ou Héracles, foi o semideus forçado a realizar 12 trabalhos
com a finalidade de reparar crimes que havia cometido por indução da esposa de
seu pai, Zeus (Júpiter), o maior de todos os deuses do Olimpo.
É, portanto, pelo conhecimento de nós mesmos, adquirindo a
verdade crística que nos liberta das trevas da ignorância e nos alça ao
encontro da Sabedoria que devemos amar, a fim de nos tornarmos verdadeiros
filósofos (*), que poderemos refletir a glória do Senhor, como num espelho.
Para tanto, contamos com a complacência divina, através da constante assistência
do Cristo e seus auxiliares, os benfeitores espirituais que conosco cooperam no
sentido de vencermos, conscientemente, a barreira da matéria de modo que nossos
esforços de autotransformação pela aquisição de virtudes, tornem-nos cada vez mais
resplandecentes aos olhos de Deus.
Em seus livros (**), o filósofo Huberto Rohden, brasileiro,
faz interessante comparação entre a água e a luz. O primeiro elemento é apontado
por vários estudiosos como aquele que oferece a melhor metáfora do aprendizado
do homem na Terra, porque se amolda às circunstâncias ambientais muito facilmente,
não precisando rebelar-se ante obstáculos, que simplesmente contorna, quando não
pode superá-los. Rohden, contudo, observa que as impurezas do ambiente podem contaminar
a água, o que não se dá com a luz, elemento absolutamente incorruptível que
permanece o mesmo ainda que visite os locais mais infectos. Eis, assim, a razão
de Jesus ter escolhido a luz para representar a natureza íntima do Espírito.
Notas
(*) Na acepção etimológica, a palavra filosofia significa “amor
à sabedoria”, de modo que o filósofo é aquele que ama a sabedoria e assim
melhor qualifica a condição de sábio.
(**) Ver, especialmente, Profanos e Iniciados (ed. Alvorada).
Que maravilha!!!
ResponderExcluirMuito obrigado. Estudar o Evangelho é uma aventura muito gratificante.
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