Esta data no Evangelho (15 de março)

Francisco Muniz




Chegadas as calendas de março (assim se referiam os antigos romanos à primeira quinzena deste mês), nosso estudo de temas do Novo Testamento prossegue hoje, dia 15, com o terceiro versículo do capítulo 15 do Evangelho de Marcos, que comentaremos conforme nosso aprendizado da Doutrina Espírita. Eis o texto, copiado da Bíblia de Jerusalém:

“E os chefes dos sacerdotes acusavam-no de muitas coisas.”

Já se disse, entre os profissionais do Direito, que o julgamento de Jesus constituiu um dos maiores erros judiciais da história da Humanidade. “A priori importante observar que ao longo da história muitos cristãos sempre deram maior notoriedade somente a duas pessoas no episódio, quais sejam, Judas Iscariotes, um dos apóstolos, e Pôncio Pilatos, governador da Judéia entre 26 a 37 d.C; no entanto, a Bíblia faz vários esclarecimentos e narrativas que destacam outros envolvidos neste episódio, considerado por muitos juristas como um julgamento injusto, ilegal e escandaloso, do ponto de vista jurídico e das leis da época, sendo também esta a opinião de Ruy Barbosa (apud Ribeiro, Roberto V. Pereira, 2010, pg. 33): 

“No julgamento instituído contra Jesus, desde a prisão, uma hora talvez antes da meia noite de quinta-feira, tudo quanto se fez até o primeiro alvorecer da sexta-feira subsequente, foi tumultuário, extrajudicial, e atentatório dos preceitos legais”. (1)

Entretanto, tudo devia se passar, mesmo, do modo como aconteceu, para dar cumprimento às antigas profecias, especialmente as de Isaías, a respeito da vinda do Messias, para fazer as pessoas de então – e na posteridade, principalmente! – recordarem os feitos e lições do Nazareno, dando-lhes valor e veracidade. Sob o parecer esotérico, os fatos que culminaram na crucificação de Jesus, passados à tradição católica como “via sacra”, foram apenas os últimos passos da derradeira fase iniciática – o sacrifício da morte – que conferiria ao Mestre o grau de Sumo Sacerdote da Ordem de Melquisedeque, conforme assegura Carlos Torres Pastorino (2) na análise dos escritos de Paulo de Tarso na Epístola aos Hebreus, evocando, por sua vez, Gênesis 14:18.

Como se trata de nos fazer recordar a verdade do que nos foi ensinado há mais de dois mil anos, lembramos que, enquanto caminhou entre nós, o Cristo jamais perdeu a oportunidade de esclarecer seus apóstolos e demais discípulos a respeito do que iria sofrer nas mãos dos homens, demonstrando que assim seria com eles e todos nós, do ponto de vista da Realidade do Espírito imortal. Desse modo, o Rabi ensinou que não temêssemos aqueles matam o corpo, mas não podem matar a alma (Mateus 10:28-33). E mais, que serão bem-aventurados (felizes) aqueles que sofrerem perseguição da justiça, desde que nossa própria justiça, baseada nas divinas recomendações, seja superior à dos escribas e fariseus (Mateus 5:20), os rigorosos legalistas de todos os tempos, do tope dos que dizem “aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei!” (3).

Podemos observar, portanto, concluindo, que estamos constantemente sendo submetidos a um julgamento – este, no tribunal da própria consciência, simbólico, pois – no qual temos nossos erros apontados à espera da sentença que cabe a cada caso. Jesus, contudo, é nosso advogado e por isso um Espírito Amigo nos aconselha, nas páginas de O Evangelho Segundo o Espiritismo, consolando-nos em nossas provações: “Coragem, amigos, o Cristo é o vosso modelo; ele sofreu mais do que vós e não tinha nada a se censurar, enquanto que vós tendes vosso passado a expiar e fortalecer-vos para o futuro. Sedes, pois, pacientes, sede cristãos, essa palavra encerra tudo” (4).

Notas   

(1) Ver https://www.oabes.org.br/noticias/arbitrariedades-no-julgamento-condenacao-e-morte-de-jesus-cristo-555724.html#:~:text=%E2%80%9CJesus%20Cristo%20foi%20preso%20sem,para%20o%20exerc%C3%ADcio%20da%20judicatura%E2%80%9D.

(2) Autor de Sabedoria do Evangelho, obra em oito volumes que disseca os evangelhos canônicos; ed. Sabedoria, Rio de Janeiro, 1967.

(3) Ver O Príncipe, de Nicolau Maquiavel.

(4) Cap. IX, item 7 (“A paciência”).


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