Francisco Muniz -
Vem do capítulo 3 do Evangelho de Mateus o assunto de nossos
comentários deste dia 13 de março, e nele buscamos o versículo 13, que traz a epígrafe
“Batismo de Jesus”, para dar prosseguimento ao estudo de temas do Novo Testamento sob as luzes diáfanas da Doutrina Espírita.
Dito isto, vamos ao texto selecionado da Bíblia de Jerusalém:
“Nesse tempo, veio Jesus da Galileia até João, a fim de
ser batizado por ele.”
Desde que comecei a estudar o
Evangelho num grupo então coordenado por Creuza Lage, que promovia o estudo
aprofundado da vida e dos feitos de Jesus, compreendi logo, por intuição,
certamente, que tudo aquilo correspondia a uma estranha e bela metáfora de nossa
própria condição espiritual. Isso, é claro, respeitadas as proporções dos
níveis evolutivos de cada um de nós no que concerne à compreensão e capacidade
de realização dos deveres espirituais que nos competem, a partir de nossa
identificação com tudo que diga respeito à nossa vinculação com a Divindade. É
desse modo que somos, a princípio, levados ao conhecimento religioso,
configurando o “batismo” aludido por Mateus no versículo aqui citado, passando
depois pelas diversas etapas do aprendizado até chegarmos ao(s) momento(s) do
sacrifício que nos habilitará a uma nova condição evolutiva.
Vale notar que o referido batismo
pode acontecer em qualquer período da vida do Espírito encarnado, embora despertemos,
em geral, para as responsabilidades espirituais por volta dos 40 anos de idade,
na fase adulta, quando o ser encontra-se mais ou menos amadurecido
psicologicamente e disposto a entregar-se às disciplinas purificadoras de si mesmo.
Essa fase é correlacionada à própria exemplificação deixada pelo Mestre, que só
iniciou sua jornada messiânica aos 30 anos, após se desincumbir dos deveres familiares
que o prendiam a Nazaré. Então ele busca seu primo João, cognominado “o Batista”,
o profeta afamado naqueles tempos e que reencarnou para cumprir a tarefa de “preparar
as veredas” (*) por onde o Messias deveria trilhar para alcançar a mente, o
coração, a alma dos judeus, num primeiro momento, e de toda a Humanidade, posteriormente.
Também será muito útil
recordarmos o aviso do Batista a seus seguidores, dizendo, às margens do rio Jordão,
que batizava com água, mas o Cristo, que viria após ele, nos batizaria com o Espírito
Santo e com fogo (Mateus 3:11). Sendo profeta, João tinha razoável conhecimento
de sua tarefa, inclusive a respeito de fatos futuros relacionados à atuação de
Jesus junto a seus discípulos, principalmente no tocante à mediunidade, quando
as “línguas de fogo” desceram sobre eles no dia de Pentecostes (**). Mateus parece
aludir a esse momento, que ele vivenciaria somente após a Ascensão. A eclosão
da mediunidade representa, no âmbito da Doutrina Espírita, um novo e mais
significativo batismo na vida do cristão consciente das próprias
responsabilidades decorrentes do compromisso assumido junto ao Cristo.
Ao chegar a uma Casa Espírita
buscando respostas para o que lhe acontece, uma vez observada a ocorrência de
fenômenos “estranhos” em sua vida, ele é esclarecido e conduzido, se o deseja,
aos estudos que o capacitarão à prática do intercâmbio mediúnico, propiciador
também de seus exercícios voltados para o autoconhecimento e consequente
reforma íntima, aprimorando-se mais e mais. Assim, de batismo em batismo, que
do ponto de vista esotérico corresponde às diversas fases iniciáticas (***), o ser vai
galgando degraus evolutivos até atingir o nível de perfeição relativa da qual
Deus é o parâmetro, conforme a lição do Mestre nazareno.
Notas
(*) Conforme João 1:23, citando a profecia de Isaías.
(**) Ver a narrativa do evangelista Lucas em Atos dos
Apóstolos.
(***) Ver em Sabedoria do Evangelho (Carlos Torres Pastorino) a interpretação das citações de Paulo de Tarso sobre a Ordem de Melquisedeque na Epístola aos Hebreus.
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