Francisco Muniz -
Neste dia 11 de março nosso estudo de temas do Novo
Testamento nos faz voltar ao Evangelho de João, para examinarmos o teor no
versículo 11 do terceiro capítulo, novamente abordando o “Encontro com
Nicodemos”, conforme o que diz a epígrafe. Eis, portanto, o texto recolhido da Bíblia
de Jerusalém, o qual tentaremos explicar com base no ensinamento da
Doutrina Espírita:
“Em verdade, em verdade, te digo: falamos do que sabemos
e damos testemunho do que vimos, porém não acolheis o nosso testemunho.”
Se falar do que se sabe é emitir opinião, o testemunho é não
só a opinião abalizada como o exemplo lastreado em profundo conhecimento – e disso
Jesus foi pródigo, embora os olhos, os ouvidos e a mente de seus contemporâneos
resistissem em aceitar o que viam, ouviam e era posto à análise de seus corações
endurecidos. Não raro essa resistência era manifesta revolta perante a verdade
de que o Cristo era portador, principalmente por aqueles que se arvoravam deter
a verdade do Judaísmo, como os escribas e fariseus, partido este que
concentrava grande parte dos integrantes do Sinédrio (*). E Nicodemos era um
doutor da Lei que, apesar de simpatizar com as ideias de Jesus, não tinha coragem
suficiente para se indispor com seus pares e por isso foi procurar o Nazareno
acobertando-se no manto da noite.
O que era feito e proclamado à luz do dia carecia de maiores
explicações, porquanto não se compreendiam facilmente as realizações “milagrosas”
de Jesus, como seu ensino que subvertia a ordem vigente por contrariar quase
todas as recomendações de Moisés, base do pensamento religioso e político dos
judeus. O paradigma moisaico, portanto, era insuficiente para a compreensão da
Vida em suas múltiplas manifestações, especialmente no tocante à realidade do
Espírito imortal, da qual o Messias veio dar inegável testemunho afirmando que
tudo quanto fazia era determinação do Pai, daquele mesmo Deus criador adorado
por seus irmãos menores, por tal razão conhecidos como o “povo escolhido”.
Essa resistência farisaica, junto com a dificuldade de se
entender determinadas lições do Cristo, ainda hoje se observa no comportamento
dos próprios cristãos, pois mesmo alguns espíritas, certamente manifestando
tendências atávicas, revelam desconforto ante a verdade da reencarnação. Outros
ainda demonstram ter medo de Espíritos, mesmo integrando equipes do intercâmbio
mediúnico. Tudo isso quer dizer que o paradigma crístico, através do qual
teremos condições plenas para construir na própria alma o Reino de Deus que o
Rabi veio anunciar há mais de dois anos, demora-se a se instalar no
entendimento dos homens. Jesus disse um dia que não podemos servir a dois
senhores, porque fatalmente desagradaremos a um deles. Vemos, contudo, que, no
mundo, estamos muito mais preocupados em agradar a Mamom.
No texto de João transparece a autoridade moral de Jesus, cujo
papel, tanto naquele momento histórico do mundo como na atualidade, não era, de
acordo com Allan Kardec (*), “[não foi] simplesmente o de um legislador
moralista, sem outra autoridade que a sua palavra; ele veio cumprir as profecias
que haviam anunciado sua vinda; sua autoridade decorria da natureza excepcional
de seu Espírito e de sua missão divina; veio ensinar aos homens que a verdadeira
vida não está sobre a Terra, mas no reino dos céus; ensinar-lhes o caminho que
para lá conduz, os meios de se reconciliar com Deus, e os prevenir sobre a
marcha das coisas futuras para o cumprimento dos destinos humanos”.
Notas
(*) O Sinédrio é a associação de 20 ou 23 juízes que a Lei
judaica ordena existir em cada cidade. O Grande Sinédrio era uma assembleia de
juízes judeus que constituía a corte e legislativo supremos da antiga Israel. (Wikipédia)
(**) Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. I (“Não
vim destruir a lei”), itens 3 e 4 (“Cristo”).
Os textos do evangelho,só nos faz, engrandecer o nosso aprendizado. Gratidão!!!
ResponderExcluirTem razão. E assim crescemos espiritualmente.
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