Francisco Muniz //
“Cura de um paralítico” é a epígrafe que abre o capítulo 9
do Evangelho de Mateus, de onde retiramos o segundo versículo para nossos
comentários neste dia 9 de fevereiro, dando continuidade ao estudo de temas do
Novo Testamento. Eis, assim, o texto, copiado da Bíblia de Jerusalém:
“Aí lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama. Jesus,
vendo tão grande fé, disse ao paralítico: ‘Tem ânimo, meu filho; os teus
pecados te são perdoados’.”
Esse episódio sucede à cura dos dois endemoninhados
gadaremos (*) referidos no final do capítulo 8 do livro de Mateus, ocasião em
que os habitantes da cidade rogaram a Jesus que os deixasse, em razão do baque
econômico sofrido após a expulsão dos tais demônios para uma grande manada de
porcos. O Messias, então, toma um barco com seus discípulos e retorna “para sua
cidade”, a qual podemos supor se tratar de Cafarnaum e não Nazaré, porquanto
esta se localizava distante do Mar da Galileia, como era conhecido o lago de
Genesaré. Além do mais, o Rabi havia sido expulso da cidade onde crescera
(Lucas 4:16-30), após os nazarenos se escandalizarem de seus ensinos, levando o
Cristo a afirmar que “um profeta só é desprezado em sua pátria, em sua
parentela e em sua casa” (Marcos 6:4).
Interessa-nos observar que o Mestre Jesus viu uma “tão
grande fé” no movimento feito pelo paralítico (o oxímoro é proposital) ao ponto
de informar a ele que seus pecados, isto é, suas dívidas contraídas perante as
soberanas leis de Deus, haviam sido enfim resgatadas. Para tanto, bastou que o
doente manifestasse a vontade de se dirigir ao encontro do Divino Emissário,
movido pelo desejo sincero de se curar. De acordo com Carlos Torres Pastorino,
em sua obra Sabedoria do Evangelho, Jesus sabia da história espiritual
daquele homem, que vencia naquele momento suas provas na matéria, e dessa
maneira pôde dar-lhe a alvissareira notícia, pedindo que o paralítico também se
alegrasse (“Tem ânimo!”).
Notemos que Jesus inicialmente não cura o enfermo, não lhe devolve os
movimentos das pernas, o que nos faz compreender que a verdadeira cura não se
processa externamente, evidenciando-se na resignação do ser ante a prova que
momentaneamente o retém no leito para a necessária reflexão acerca de sua
problemática espiritual. Por isso é que se diz ser mais importante que a cura
física o aprendizado que a doença oferece, principalmente quando se está atravessando
uma expiação através de uma enfermidade reconhecidamente incurável (do ponto de
vista da medicina). É dessa maneira, então, que vemos nossos “pecados”
perdoados pela Justiça Divina, dela recebendo os acréscimos de misericórdia se
bem soubermos nos comportar durante o período da remissão provacional.
A esse respeito, o Mestre é enfático quanto à necessidade de
cumprirmos nossas provas até o fim, pois não sabemos quando será o termo de
nossas aflições: “Entra em acordo depressa com teu adversário, enquanto estás
com ele a caminho do tribunal, para que não aconteça que o adversário te
entregue ao juiz, o juiz te entregue ao carcereiro, e te joguem na
cadeia. Com toda a certeza afirmo que de maneira alguma sairás dali,
enquanto não pagares o último centavo” (Mateus 5:25-26). Ora o adversário do
Espírito não é outro Espírito, mas sua personalidade (o ego criado por sua
manifestação na matéria, a alma), posto ser ele a individualidade, de essência
eminentemente divina. Desse modo que, preso no corpo a cada reencarnação, o
Espírito está sendo convidado a desenvolver ações conscientes até recuperar sua
plena liberdade, voando enfim para seu destino glorioso.
(*) No período do Cristo, Gadara era uma das dez cidades da
Decápole Romana e possuía semiautonomia. Influente centro comercial,
principalmente por sua proximidade com piscinas termais, bem frequentadas pela
elite romana. Atualmente se chama Umm Quais, derivado do nome romano Caius.
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