Esta data no Evangelho (8 de fevereiro)

Francisco Muniz // 




Aberta a Bíblia de Jerusalém na Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, o segundo versículo do capítulo 8 apresentou-se para os comentários que faremos neste dia 8 de fevereiro, prosseguindo nosso estudo de passagens do Novo Testamento, sob a luz da Doutrina Espírita. O texto é o que segue:

“Se alguém julga saber alguma coisa, ainda não sabe como deveria saber.”

A frase do Apóstolo dos Gentios faz eco ao pensamento oriental segundo o qual o que se sabe não tem importância alguma, só importa o que se faz com o que se sabe. Também nos recorda a famosa alocução de Sócrates, considerado, em sua época, o homem mais sábio da Grécia: “Só sei que nada sei”. Ou seja, se você alardeia um saber baseado apenas no que você conhece, você não sabe nada, posto que o saber vai muito além do simples exercício intelectual, exigindo também aquilo que não faz muito tempo se convencionou chamar de “inteligência emocional” (1).

A afirmativa paulina encontra-se, nesse oitavo capítulo, sob a epígrafe “O aspecto teórico”, no qual Paulo argumenta que “no tocante às carnes sacrificadas aos ídolos, é inegável que todos temos a ciência exata. Mas a ciência exata incha; é a caridade que edifica”. Isso me faz recordar do período em que servi na Universidade, observando o comportamento de alguns acadêmicos, especialmente aqueles orgulhosos de seus títulos, cada um querendo sobressair mais que o outro. E como uma coisa leva a outra, logo nos vem à memória a admoestação do Cristo feita ao orgulhosíssimo senador romano Públio Lentulus, no célebre encontro (2) de ambos nas proximidades do mar da Galileia.

O orgulho é o que nos perde no mundo, através da manifestação de duas de suas filhas, a arrogância e a vaidade, razão pela qual o Mestre nos chama ao despertamento: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mateus 11:29). Após ele, que agradeceu a Deus por revelar as verdades do Reino aos “simples e pequeninos”, em vez dos “sábios e prudentes”, e bem depois de Paulo, que nos aconselha a conhecer tudo e só reter o que é bom (3), o Espiritismo também nos chama a atenção para essas armadilhas do ego: “Os homens de ciência e de espírito, segundo o mundo, têm geralmente tão alta consideração de si mesmos e de sua superioridade, que olham as coisas divinas como indignas de sua atenção; seus olhares, concentrados sobre sua pessoa, não podem se elevar até Deus”.

A força dessas palavras de Allan Kardec (4), escritas em meados do século XIX, já deve estar esmaecida neste começo do terceiro milênio da Era Cristã, quando vários paradigmas do pensamento humano vêm sendo ao menos questionados. As noções de espiritualidade já encontram receptividade no meio acadêmico e a própria medicina não só admite como se utiliza de recursos que promovem a saúde da alma para sofrear os efeitos das enfermidades corporais. Talvez neste século ainda as mentes argutas, embora hoje reticentes, consigam superar o paradigma materialista instalado na ciência do mundo e aceitem a verdade da reencarnação, a fim de se obterem as respostas para muitas, senão todas, inquietações humanas.

Notas

(1) A inteligência emocional é um conceito da psicologia usado para designar a capacidade do ser humano de lidar com as emoções. Isso inclui a capacidade de síntese, de intuição, compreensão da linguagem, música e gestos, entre outras.

(2) Ver Paulo e Estêvão, primeiro romance da série Romances Históricos de Emmanuel, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier (ed. FEB).

(3) Primeira Epístola aos Tessalonicenses, Cap. 5, versículo 21.

(4) Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VII, itens 1 e 2 (“O que é preciso entender por pobres de espírito”).


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