Francisco Muniz //
“A Páscoa do pão da vida (nova oposição à revelação)”
intitula a terceira parte do Evangelho de João, onde a epígrafe “A
multiplicação dos pães” inicia o sexto capítulo, do qual retiramos o segundo versículo
para nossos comentários neste dia 6 de fevereiro. Eis, assim, o texto da Bíblia
de Jerusalém:
“Uma grande multidão o seguia, porque tinha visto os
sinais que ele realizava nos doentes.”
Os Espíritos encarregados de nossa instrução quanto à
imortalidade nos afirmam que a Terra é o mundo dos efeitos, em contraposição ao
mundo causal que é a própria realidade espiritual, de modo que vivemos
mergulhados em experiências fenomênicas o tempo todo. No entanto, a grande
maioria de nós simplesmente desconhece esse fato, daí julgar-se o resultado da
ação do Espírito sobre a matéria como algo sobrenatural, com as mentes
transitando entre o temor e o maravilhamento, a depender de como recepcionem
estes ou aqueles acontecimentos.
O evangelista, aqui, informa que foram os surpreendentes
fenômenos de cura que estimularam uma grande multidão a seguir Jesus, numa
época em que principalmente a lepra, doença contagiosa de forte estigma social,
grassava assustadoramente. Assim como os profetas do passado, Jesus tinha
baixado à face escura do planeta para iluminar as consciências, esclarecendo
com seu verbo suficientemente objetivo a ignorância que o rodeava, mostrando,
desde aquela época, a mensagem cristalina de que era portador.
Ou seja, muito mais importante que os fenômenos que ele
realizava eram as lições por trás de cada um deles – e isto, sim, valia a pena examinar
e compreender para, enfim, aprender. Entretanto, poucos tinham desenvolvidos os
“olhos de ver” e os “ouvidos de ouvir”, sendo necessário que o Consolador
prometido viesse nos explicar o caráter científico – muito mais que apenas “religioso”
– das ocorrências causais e resultantes da ação dos Espíritos sobre os fatos da
Natureza. O Espiritismo, pois, como nos informa Allan Kardec (*), é uma das
forças da Natureza, conceituado como a ciência filosófica que trata da origem e
destinação dos Espíritos, bem como de sua relação com os homens.
Mas até que os homens, objeto da solicitude da Espiritualidade,
tenhamos disposição, coragem e prazer em nos debruçarmos sobre tão importante
estudo, para a consequente descoberta de nós mesmos, ainda nos veremos circundando
os mensageiros do Alto, ansiosos pela materialização de suas mensagens, mas desprezando
o significado de cada uma delas. Segundo Huberto Rohden, o grande filósofo
universalista que o Brasil produziu, somos, na condição de integrantes da turba
ignara, capazes de dar grandes passos... fora do caminho (“magni passus extra
viam”).
O fato é que passados mais de dois mil anos desde que o
Cristo provou que a morte é uma ilusão e que a única realidade é a do Espírito
imortal, anterior ao nascimento na carne e sobrevivente à morte do corpo, mesmo
os cristãos ainda se assustam e temem a aparição de Espíritos, tachando-os de “assombrações”.
São mentes assim que criam tais fantasmas que o Espiritismo veio ajudar a “exorcizar”
através do esclarecimento acerca dos fenômenos que há muito angustiam a
Humanidade.
Costumo dizer que ninguém precisa ser espírita, a não ser
nós, os cristãos falidos do passado, mas todo mundo deveria conhecer o
Espiritismo, que, numa analogia com a mitologia grega, representa as duas
moedas que se punham sobre os olhos dos cadáveres levados na barca de Caronte.
Os “cadáveres” somos nós que ainda não abrimos os olhos para nossa própria
realidade, embora nos acreditemos bem vivos...
(*) Ver O que é o Espiritismo (ed. FEB).
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