Francisco Muniz //
Eis que voltamos ao livro do Apocalipse, para continuação de
nosso estudo em torno de temas do Novo Testamento, desta vez para abordar o
versículo 4 do capítulo 2, relativos a esta data de 4 de fevereiro. Na abertura
desse livro, composto mediunicamente, seu autor, o apóstolo e evangelista João,
apresenta-nos, na primeira parte, “As cartas às Igrejas da Ásia”, ocupando-se
inicialmente da Igreja de Éfeso, razão do versículo que comentaremos agora, sob
a inspiração da Doutrina Espírita, a partir do texto observado na Bíblia de
Jerusalém:
“Devo reprovar-te, contudo, por teres abandonado teu primeiro
amor.”
Antes de mais nada, é preciso que se diga que as cartas de
João são o próprio livro que ele escreve e deve ser enviado ao Anjo de cada uma
dessas Igrejas asiáticas; o livro-carta contém louvores quanto ao
comportamento, admoestações quanto ao que se fez e avisos quanto ao que advirá.
Assim, a partir do segundo versículo, o Cristo Cósmico, que é quem dita a carta
a seu apóstolo João, diz ao Anjo de Éfeso: “Conheço tua conduta, tua fadiga e
tua perseverança: sei que não podes suportar os malvados: puseste à prova os
que se diziam apóstolos (*) – e não são – e os descobriste mentirosos. És
perseverante, pois sofreste por causa do meu nome, mas não esmoreceste”.
Há uma reprovação, porém, devida ao abandono do “primeiro
amor”, o que nos leva a considerar o comportamento religioso do homem sobre a
Terra. Esse “primeiro amor” será sempre Deus, o Criador e Provedor, sejam quais
forem os títulos com que nossa adoração possa identificá-lo, principalmente se
somos cristãos. No entanto, vemos, ainda, o grande fosso que o orgulho humano
criou entre o conhecimento científico e a ideia de Deus, enquanto grassa, mesmo
entre a massa “esclarecida”, as manifestações politeístas que devemos combater
em nós mesmos desde que Moisés recebeu e promulgou o Decálogo no alto do Monte Sião:
“Não terás outros deuses diante de ti”, determina o primeiro mandamento.
Também entre cristãos-espíritas tal comportamento pode ser
observado. Aproveitando o caráter liberal da Doutrina e amparados pelo fato de
que Jesus não instituiu qualquer religião, apenas recomendou o amor
incondicional, muitos companheiros veem-se livres para as manifestações
próprias do culto exterior. Como numa volta às origens, quando o Cristianismo,
tornado religião de Estado, oficial, abraçou o paganismo, em vez de
convertê-lo. É certo que sua dedicação ao Espiritismo não pode ser posta em
dúvida, embora o Espírito Emmanuel, do alto de sua destacada condição de mentor
espiritual do verdadeiro apóstolo que foi Chico Xavier, diga que toda justificativa
para abandonarmos nossos mais sagrados deveres para com a Doutrina Espírita é
injustificável.
“Se o Plano Superior já te permite pisar na seara espírita, não te limites à prece”, diz-nos Emmanuel no capítulo 73 do Livro da
Esperança (psicografia de Chico Xavier, ed. CEC), recomendando-nos o estudo
acurado dos princípios doutrinários a fim de, suficientemente esclarecidos, não
nos deixemos levar pelos impulsos primitivos que já devíamos ter superado. É
desse modo que somos chamados a laborar na “vinha do Senhor”: “Aquele que não
cultiva o campo que o trabalho de seu pai lhe ganhou, e o qual ele herda, vê
esse campo se cobrir de ervas parasitas. É seu pai quem lhe toma as colheitas
que não quis preparar?” – assim nos questiona Um Espírito Amigo em O
Evangelho Segundo o Espiritismo (**). Reflitamos.
Notas
(*) Em grego, a palavra “apóstolo” quer dizer “enviado” e,
conforme o contexto aqui, podemos fazer uma analogia aos falsos profetas.
(**) Instruções dos Espíritos, item 18: “Dar-se-á àquele que tem”.
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