Esta data no Evangelho (31 de janeiro)

Francisco Muniz // 



Novamente pelos motivos já expostos aqui, referentemente aos dias que encerram cada mês (em fevereiro não teremos esse problema!), que não encontram correspondência de capítulos, bem como de versículos, nos livros do Novo Testamento, recorremos mais uma vez aos Salmos e no poema de número 31 o rei Davi, seu autor, apresenta-nos estes versos, copiados da Bíblia de Jerusalém:

“Feliz aquele cuja ofensa é absolvida, cujo pecado é coberto.”

Escritos muitos séculos antes da era cristã, os Salmos inspiraram muitas passagens do Evangelho, a Boa Nova que Jesus deu a conhecer ao mundo com a finalidade de despertar os homens para a vivência de sua realidade mais íntima, que ele chamou de Reino dos Céus – ou de Deus. Tal revelação recaía principalmente sobre aqueles que, infortunados e sem esperança, sentiam-se verdadeiros réprobos perante a Providência Divina, tal o peso das iniquidades cometidas contra as leis, sofrendo por isso o anátema da Religião e o desprezo dos semelhantes. O Mestre, porém, desde cedo manifestara seu caráter apaziguador desses corações sofridos, ao dizer não ter vindo para os sãos, mas para os enfermos (Marcos 2:17).

Por sua pequenez moral, característica de sua inferioridade espiritual, o homem é capaz de cometer todos os desatinos até que sua consciência, uma vez em processo de despertamento, desenvolva em si mesma os valores próprios dos ideais do bem e da justiça, aformoseando sua alma sob o buril do esforço individual. Filho do amor, um dia ele descobre que é esse o principal caminho a trilhar na busca pelo bem-estar que almeja, passando então a aceitar a companhia inefável do Cristo, cuja assistência o fará, pouco a pouco, afeito à política da fraternidade e às ações caritativas a que todos somos convocados a exercer no mundo.

É somente quando assim nos comprometemos que sentimos, felizes, nossas ofensas serem perdoadas e nossos erros receberem o lenitivo da oportunidade para o recomeço, porque a Bondade Divina é sobretudo misericordiosa para com os filhos da Dor. É como lemos no Livro de Ezequiel (33:11): “Deus não quer a morte do ímpio; quer que ele se converta”. E a conversão que o Pai de Amor e Sabedoria promove junto a seus filhos misérrimos é a que leva ao caminho do bem, do amor incondicional, de modo a deixar patente a frase que o apóstolo Pedro grafou na primeira de suas epístolas (4:8): “Antes de tudo, exercei profundo amor fraternal uns para com os outros, porquanto o amor cobre uma multidão de pecados”.

É possível imaginar, analisando alguns episódios em que Jesus, prodigalizando alívio para algumas daquelas almas que o procuraram, a alegria que elas sentiram ao ouvir dos lábios santos “teus pecados te são perdoados”. O peso de toda uma vida de amarguras desaparecia de sobre aqueles ombros cansados e um novo sol de esperança brilhava nos corações que antes não vislumbravam nenhuma expectativa de felicidade. Jesus era e é esse Sol cuja grandeza ainda não foi suficientemente determinada pelo conjunto dos homens, de modo a requererem a grande herança que a Imortalidade lhes franqueia, desde que optem pelo exercício da autopurificação pelo amor.

É forçoso, assim, recorrermos mais uma vez às ponderações do Espírito Lázaro, no capítulo XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo (“Amar o próximo como a si mesmo”): “O Espírito deve ser cultivado como um campo; toda a riqueza futura depende do labor presente, e mais do que bens terrestres, levar-vos-á à gloriosa elevação; é então que, compreendendo a lei de amor que une todos os seres, nela encontrareis as suaves alegrias da alma, que são o prelúdio das alegrias celestes” (*).

(*) Item 8 das Instruções dos Espíritos: “A lei de amor”.

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