Novamente pelos motivos já expostos aqui, referentemente aos
dias que encerram cada mês (em fevereiro não teremos esse problema!), que não
encontram correspondência de capítulos, bem como de versículos, nos livros do
Novo Testamento, recorremos mais uma vez aos Salmos e no poema de número 31 o
rei Davi, seu autor, apresenta-nos estes versos, copiados da Bíblia de
Jerusalém:
“Feliz aquele cuja ofensa é absolvida, cujo pecado é
coberto.”
Escritos muitos séculos antes da era cristã, os Salmos
inspiraram muitas passagens do Evangelho, a Boa Nova que Jesus deu a conhecer
ao mundo com a finalidade de despertar os homens para a vivência de sua
realidade mais íntima, que ele chamou de Reino dos Céus – ou de Deus. Tal
revelação recaía principalmente sobre aqueles que, infortunados e sem
esperança, sentiam-se verdadeiros réprobos perante a Providência Divina, tal o
peso das iniquidades cometidas contra as leis, sofrendo por isso o anátema da
Religião e o desprezo dos semelhantes. O Mestre, porém, desde cedo manifestara
seu caráter apaziguador desses corações sofridos, ao dizer não ter vindo para
os sãos, mas para os enfermos (Marcos 2:17).
Por sua pequenez moral, característica de sua inferioridade
espiritual, o homem é capaz de cometer todos os desatinos até que sua
consciência, uma vez em processo de despertamento, desenvolva em si mesma os
valores próprios dos ideais do bem e da justiça, aformoseando sua alma sob o
buril do esforço individual. Filho do amor, um dia ele descobre que é esse o
principal caminho a trilhar na busca pelo bem-estar que almeja, passando então a
aceitar a companhia inefável do Cristo, cuja assistência o fará, pouco a pouco,
afeito à política da fraternidade e às ações caritativas a que todos somos convocados
a exercer no mundo.
É somente quando assim nos comprometemos que sentimos,
felizes, nossas ofensas serem perdoadas e nossos erros receberem o lenitivo da oportunidade
para o recomeço, porque a Bondade Divina é sobretudo misericordiosa para com os
filhos da Dor. É como lemos no Livro de Ezequiel (33:11): “Deus não quer a
morte do ímpio; quer que ele se converta”. E a conversão que o Pai de Amor e
Sabedoria promove junto a seus filhos misérrimos é a que leva ao caminho do
bem, do amor incondicional, de modo a deixar patente a frase que o apóstolo
Pedro grafou na primeira de suas epístolas (4:8): “Antes de tudo, exercei profundo
amor fraternal uns para com os outros, porquanto o amor cobre uma multidão
de pecados”.
É possível imaginar, analisando alguns episódios em que
Jesus, prodigalizando alívio para algumas daquelas almas que o procuraram, a
alegria que elas sentiram ao ouvir dos lábios santos “teus pecados te são
perdoados”. O peso de toda uma vida de amarguras desaparecia de sobre aqueles
ombros cansados e um novo sol de esperança brilhava nos corações que antes não
vislumbravam nenhuma expectativa de felicidade. Jesus era e é esse Sol cuja
grandeza ainda não foi suficientemente determinada pelo conjunto dos homens, de
modo a requererem a grande herança que a Imortalidade lhes franqueia, desde que
optem pelo exercício da autopurificação pelo amor.
É forçoso, assim, recorrermos mais uma vez às ponderações do
Espírito Lázaro, no capítulo XI de O Evangelho Segundo o Espiritismo (“Amar o
próximo como a si mesmo”): “O Espírito deve ser cultivado como um campo; toda a
riqueza futura depende do labor presente, e mais do que bens terrestres,
levar-vos-á à gloriosa elevação; é então que, compreendendo a lei de amor que
une todos os seres, nela encontrareis as suaves alegrias da alma, que são o
prelúdio das alegrias celestes” (*).
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Abra sua alma!