Esta data no Evangelho (3 de fevereiro)

Francisco Muniz // 




Do versículo 3 do segundo capítulo da Primeira Epístola de Pedro tiramos o assunto de nossos comentários deste dia 3 de fevereiro, continuando nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento sob a luz da Doutrina Espírita. O texto, tirado da Bíblia de Jerusalém, vem mais uma vez “quebrado”, como segue:

“(...) já que provastes que o Senhor é bondoso.”

Na Carta do apóstolo, dirigida “aos estrangeiros da Dispersão”, essa parte do texto está destacada em itálico, mas vejamos o que diz todo o versículo, para que compreendamos o pensamento do missivista. Pedro, o pescador sobre quem Jesus disse que ergueria sua igreja, está falando da “regeneração pela Palavra”, epígrafe dessa passagem evangélica: “Portanto, rejeitando toda maldade, toda mentira, todas as formas de hipocrisia e de inveja e toda maledicência, desejai, como crianças recém-nascidas, o leite não adulterado da palavra, a fim de que por ele cresçais para a salvação (...)”  

Ao afirmar que “o Senhor é bondoso”, Pedro se refere ao Cristo, a “pedra viva” rejeitada pelos homens, “mas diante de Deus eleita e preciosa”, à qual nos achegamos, também como “pedras vivas”, para, constituindo-nos num edifício espiritual, no dizer do apóstolo, dedicarmo-nos a um “sacerdócio santo”, a fim de oferecermos “sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo”. E tudo isso porque provamos, desde então, que “o Senhor é bondoso”, isto é: nós, movidos pelas necessidades do corpo e da alma e, mais ainda, pela esperança, experimentamos da Divina Misericórdia, pela intercessão de Jesus, e a ela nos afeiçoamos.

Assim é que melhor compreendemos a frase-convite por ele pronunciada e que ainda ecoa na acústica de nossa consciência há mais de dois mil anos: “Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados e aflitos e eu vos aliviarei” (Mateus 11:28-30). Jesus, derramando-se de amor a benefício dos mais sofredores, manifestava constantemente sua bondade, mas sua condição humilde não lhe permitia ostentação. Certa vez, um homem se lhe aproximou perguntando: “Bom mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” O Messias interrompeu-o para dar uma lição para todos nós: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus!” (Marcos 10:17-18)

Dentre seus muitos atributos, Deus – assim nos disseram os Espíritos através de Allan Kardec (*) – é soberanamente justo e bom e transfere, em nome dessa bondade e justiça, essa condição para seus filhos que correspondam à observância de suas soberanas leis. Jesus é, para nós, o principal herdeiro desses atributos e quer que também os possuamos, esforçando-nos para assimilar e vivenciar o conceito de que somos todos deuses, conforme consta das Sagradas Escrituras (**). Não basta, pois, fazermos o bem: é preciso que sejamos intrinsecamente bons, reconhecendo em nossa essência mais íntima a potência divina originária de nossa criação.

E manifestamos um pouco da bondade divina agindo misericordiosamente para com nossos irmãos de caminhada, fazendo por cada um deles o que o Pai Altíssimo faz por todos nós, cumulando-nos de bênçãos dia após dia. É sermos intensa e sinceramente solidários, caridosos e fraternos, sempre um pouco mais do que na vez anterior, porque, à semelhança do Sol que não cessa de iluminar nossos dias, também nosso Criador não se empobrece de compaixão por nós, seus filhos muito amados, apesar de nossa proverbial ingratidão.

Notas

(*) O Livro dos Espíritos, questões 10 e seguintes.

(**) “Não está escrito: vós sois deuses?” (João 10:34, citando Salmo 82:6)


Comentários